Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

terça-feira, 27 de novembro de 2012

DISCURSO DE POSSE ACLP MARIA LUISA BOMFIM


DISCURSO DE POSSE  ACLP
                 “ A literatura nos mostra o homem com uma veracidade que as ciências talvez não têm. Ela é o documento espontâneo da vida em trânsito. É o depoimento vivo, natural, autêntico.”     ( Cecília Meireles)
Ilustres Acadêmicos,
Senhoras e senhores, boa noite!
    Gostaria de cumprimentar os integrantes da Mesa na pessoa do Presidente, Acadêmico Vicente Alencar. Saúdo as demais autoridades e os amigos presentes nesta cerimônia, na pessoa do Acadêmico Maurício Cabral Benevides, presidente da Academia Cearense de Retórica.
    O renomado poeta e memorialista JOAQUIM NABUCO afirma: “ O ESPÍRITO ACADÊMICO É UMA ESPÉCIE DE CONSERVAÇÃO OU UM CONVITE À FRATERNIDADE DAS INTELIGÊNCIAS, ATRAVÉS DA ALEGRIA DO CONVÍVIO INTELECTUAL E COMPREENSÃO DOS ESPÍRITOS, FUNDINDO CÉREBROS E CORAÇÕES PARA A COMUNHÃO DAS IDEIAS”. Evocando o pensamento de Nabuco, chego a esta Casa com júbilo e alegria, mergulho neste mar de cultura e saber, deixando-me flutuar tranquila e confiante nas águas cristalinas dessa gloriosa Arcádia da terra de Alencar, a Academia Cearense da Língua Portuguesa.
   Confesso que resisti temerosa ao sonho acalentado de candidatar-me à vaga do saudoso mestre e amigo, Acadêmico Professor Dr. Sinésio Lustosa Cabral Sobrinho, ocupante da cadeira de nº 3 que tem como Patrono o filólogo e etimólogo carioca Antenor Nascentes. Dúvidas e receios tomaram conta de meus pensamentos. Faltar-me-ia competência, legitimidade, sabedoria para conviver com pessoas tão valorosas e cultas? Seria eu merecedora de tamanho privilégio? Sem dúvida, ingressar em tão nobre entidade literária representa uma vitória  das mais significativas para qualquer um de nós, amantes das Letras. É aqui nesta Casa que o idioma pátrio, herdado dos bravos navegadores portugueses, tem como doutrina o amor à preservação da Língua Portuguesa, reconhecida como a mais próxima dos padrões latinos.
   Senhoras e Senhores,
    Não podemos ocultar os problemas existentes, relacionados à hegemonia de economias poderosas e de sociedades mais desenvolvidas, mas é importante constatarmos que, segundo  estudiosos no assunto, fica provado que o “Português” é a terceira língua mais utilizada no Ocidente, dentro de um elenco das dez principais. Sendo a língua materna falada em Portugal e no Brasil, é adotada como língua oficial em outros países espalhados em três continentes, destacando-se em 5º lugar entre os idiomas mais representativos.
   Em 1908, Teófilo Braga, em texto publicado no “Boulletin de la Societé des Etudes Portugaises”, afirma: “ A língua portuguesa foi sempre uma emancipação orgânica do individualismo nacional ou da autonomia de Portugal contra o esforço de absorção das monarquias, hispânica, leonesa e castelhana. É a língua portuguesa, como vibração física que unifica milhões de portugueses, sendo o documento sociológico de um povo que, além das grandes descobertas, criou uma bela literatura, expressão do seu gênio estético, que nos encanta e fascina.” Assim, a realidade de uma língua de cultura como a nossa, portadora de uma longa história, continuará sendo um poderoso laço de união entre as diversas civilizações hodiernas.
    Quanto a mim, senhoras e senhores, afigura-se bastante claro que a Providência Divina esteve ao meu lado quando reservou-me a cadeira de nº 3, pertencente ao inesquecível Acadêmico Sinésio Lustosa Cabral Sobrinho, um dos fundadores dessa Arcádia,  grande mestre e amigo. Ele que foi um dos maiores incentivadores de minha carreira literária, apoiando-me e orientando-me com extrema bondade e presteza. Gentilmente fez a revisão de meu primeiro livro de poesia “Poeira de Estrelas”, esclarecendo minhas dúvidas, corrigindo meus deslizes  e escrevendo na contracapa palavras das mais alentadoras para uma poetisa iniciante. Falar sobre a rica trajetória profissional e literária desse ilustre Acadêmico seria impossível fazê-lo em tão pouco tempo. Entretanto, tentarei sintetizar com absoluta admiração alguns dados referentes a sua vitoriosa existência.
    Sinésio Lustosa Cabral Sobrinho  nasceu a 22 de maio de 1915, em Várzea Alegre-Ce. Era filho do magistrado Genésio Lustosa Cabral e da professora Líbia Lustosa Cabral. Advogado e professor,  exerceu os cargos de Juiz Preparador e Eleitoral, Promotor de Justiça, Curador de Registros Públicos e Procurador de Justiça, no interior e na capital do Ceará. Foi professor de Linguagem Forense, em cursos de preparação para o Exame de Ordem na O.A.B. – Ceará, e no curso, ministrado juntamente com o professor  Acadêmico Myrson Lima, de Revisão Gramatical na ESMEC, em 1998. Lecionou Língua Portuguesa em Itapipoca, Sobral e no Liceu do Ceará, em Fortaleza. Pertenceu às Academias Brasileira e Cearense da Língua Portuguesa, presidindo esta última no biênio 1984 - 1986. Era membro também da Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro, Academia Petropolitana de Poesia Raul de Leoni, em Petrópolis- R.J, Associação Cearense do Ministério Público, que também presidiu, Instituto Cultural do Vale Caririense em Juazeiro do Norte, e sócio efetivo da Associação Cearense de Imprensa.
    Durante décadas editou o “Mensageiro da Poesia”, uma publicação independente de projeção nacional em que divulgava poemas, notícias literárias, informações sobre a língua portuguesa e mantinha uma coluna dedicada aos Trovadores. Dentre os vários livros publicados, destacamos “Sonetos e Poemas” e “Reflexos D’Alma”. Recebeu a comenda de Honra ao Mérito da antiga Fundação Cultural de Fortaleza, o diploma cultural e título de Acadêmico Honorário da Academia Cearense de Letras, e a medalha de Membro Padrão do Ministério Público do Ceará, entre outras homenagens.
   Era casado com D. Mª Diva Ximenes Cabral; pai, avô e bisavô extremamente dedicado, compartilhando um grande amor a todos os familiares. Sua partida aos noventa e seis anos deixa enorme lacuna no meio intelectual, principalmente aqui na Academia Cearense da Língua Portuguesa, da qual era sócio fundador e o mais idoso membro, sendo também uma das mais queridas presenças no universo acadêmico do Ceará.
Senhoras e senhores,
    É tempo de agradecimento.  São inúmeras as pessoas que contribuíram para a realização deste momento especial. Impossível citá-las todas, mas o registro de algumas, fará justiça àquelas que estarão para sempre guardadas em meu coração. Em primeiro lugar a Deus, criador do universo; também à minha dedicada avó Maria Luisa Gomes Parente Silva, aos meus pais Aníbal e Carmen Câmara Bomfim pela lição de vida e pelos princípios éticos que me legaram e que sempre nortearam minha existência; a meus irmãos Sérgio, aqui presente, Anibal e Alzira, residentes no Rio de Janeiro. A meus filhos Magno, Ana Paula e Émerson, a minhas noras Virgínia e Regina e a meu genro Helvécio, nos quais sempre encontro apoio, carinho e solidariedade. E a meus netos Kaylan, Caio e Luísa Aline,  as mais doces presenças no outono de minha vida. Às minhas tias Isa, Dolores e Aline Silva, valorosas professoras que despertaram meu amor para o mundo mágico da literatura, e aos mestres dos colégios que frequentei. Primeiramente Imaculada Conceição, depois, Escola Normal Justiniano de Serpa, Liceu do Ceará, Lourenço Filho, onde comecei minha vida profissional convidada pelo mestre e poeta Filgueiras Lima, até a Universidade de Fortaleza, onde cursei Direito e Pedagogia.
    Queridos mestres, quanto saber vocês me passaram! Benditos todos, onde quer que estejam neste momento tão significativo para mim! Impossível não citar os nomes de Regine Limaverde, minha prima-irmã, Vicente Alencar, José Augusto Bezerra e Giselda Medeiros, ilustres acadêmicos a quem devo gratidão e apreço. Parabenizo as acadêmicas Regine Limaverde e Ana Paula Medeiros, que nesta cerimônia passaram a ocupar as cadeiras de nº 7 e de nº 12, e ao ilustre Acadêmico Cid Carvalho por tão brilhante e acolhedora apresentação.
   Para encerrar, mais uma vez agradeço a confiança e a generosidade dos Acadêmicos  que aprovaram meu ingresso  nesta Casa, afirmando-lhes que estarei sempre disponível, procurando dentro de minhas possibilidades e invocando a ajuda de Deus, contribuir para o engrandecimento desta valorosa Arcádia , a Academia Cearense da Língua Portuguesa.
Muito obrigada.
MARIA LUISA BOMFIM
Fortaleza,  22 de novembro de 2012

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