Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

MEMÓRIA Sylvia Leão

MEMÓRIA
Sylvia Leão

Aquela voz redundou 
no mais antigo 
dos meus corações. 
Surpreendi-me,
pois aqueles tempos, 
em tamanha ânsia 
de serem acordados,
não os sabia. 
A falta dele- 
que eu não sentia 
que sentia tanto- 
estrondou  amantíssima
e brutal, por todos os lados
do meu dentro.
De repente, meu ouvido infante 
se pôs na ponta dos pés,  
com a memória grudada 
na antiga estridência 
do "rádio de pano".
Assim, subitamente 
amiudada, não era mais eu, quem ouvia; 
nem era mais o locutor, quem falava. 
A minha alma não se conteve, 
desabei no choro! 
Sim, uma das minhas tantas almas órfãs, 
aquela de um pai, ainda tão precisada, 
foi despertada às dez horas da noite, 
morrendo de fome. 
Naquela voz, 
fartadas se aninham, 
as minhas memórias 
de leite.



Para o meu amigo, Vicente Alencar,
porque me devolveu o meu pai.

Sylvia Leão

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