Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

domingo, 9 de setembro de 2012

TroVariedades 92


A Diva do Soneto

Divenei, Divenei!
Acho ela às vezes ranzinza e briguenta e sei que ela também me acha.
Mas uma coisa não me canso de dizer, alto e bom som: ela é uma das melhores sonetistas não só do nosso, mas de todos os tempos.
Sou muito exigente em matéria de soneto e para colocar nessa categora, cobro perfeição em todos os elementos fundamentais, no meu conceito: fluência, simplicidade, rima, métrica, ritmo, fecho de ouro e conteúdo.
Os sonetos dela têm tudo isso e mais outras coisas não essenciais mas que só os grandes poetas conseguem, para que o soneto seja uma obra prima!
Sonetos como esse devem ser olhados como se olha um quadro pintado por um virtuose do pincel.
Primeiro a gente vê e aplaude. Depois, olha com mais cuidado e saboreia detalhes não percebidos de imediato.
Foi o que fiz, e vem o que achei nesse soneto:
No primeiro verso, o uso de dois "as" com sentidos diferentes dão um sabor especial à frase.
Rima intercalada, gosto muito e pratico.
Rimas ricas: aí(adv)/senti(verbo) - saci(subst)/consegui(verbo) - embaraços(subst)/lassos*(adj) - cama(subst)/ama(verbo)
pouco(adv)/louco(adj)
Rimas preciosas: passos/abraços - embaraços/lassos
Rimas internas: é impressionante a quantidade e efeitos produzidos. Elas acontecem em 3 construções, nos quartetos:
1. passos/braços - saci/ergui;
2. fugindo/fingindo - burlando/forjando;
3. solidão/ilusão/exatidão/emoção - perdição/paixão/frouxidão/ebulição
O jogo de palavras que conduz ao desfecho perfeito, também é coisa de gente grande: gesto louco/louco amor.
Fala sério...  Quantos sonetistas são capazes de uma construção como essa?
Tiro meu chapéu para a genial ranzinza, Divenei, a Diva do Soneto.

<<< Soneto do Dia >>>         

F U G A

Divenei Boseli/SP

Fugindo à solidão, a largos passos,
nos braços da ilusão fui por aí,
fingindo a exatidão com que senti
a túrgida emoção de outros abraços.

Burlando a perdição, feito um saci,
ergui nova paixão sem embaraços,
forjando a frouxidão dos nervos laços
depois da ebulição que consegui.

E gozo em cada corpo, em cada cama,
o autêntico prazer que só quem ama
conhece, e só acontece isso, porque

em cada boca estranha eu bebo um pouco
do fel com que matei, num gesto louco
o louco amor que eu tive por você.

-- 
"Amigo que foi, não era" (Pedro Ornellas)

Nenhum comentário: