Senador vitalício do povo
Geraldo Duarte*
Epifânio Pinheiro Bezerra de Menezes (1874-1957), cratense e fazendeiro de representativas posses, era estimado e respeitado pelos conterrâneos.
Depois de vitimado por forte derrame, somado a sequelas causadoras de confusão mental, voz arrastada e dificuldade no andar e gesticular criou um mundo de sonhos, com riquezas e populações formadas em suas miragens.
Daí tornou-se o querido “Senador Pinheiro Bezerra”, acometido de uma megalomania involuntária e não prejudicial a ninguém, conquistando as atenções dos munícipes e maior bem-querer de todos na cidade.
Passados mais de sessenta anos de seu falecimento, ou seja, quase duas gerações posteriores, mesmo hoje, sua imagem e suas hilárias peripécias enriquecem o populário citadino. Assim, fez-se um “senador vitalício”, cargo tão almejado de criação, na atualidade, por vários ex-quaisquer-figurões da República.
Uma turma de pessoas de destaque, a qual chamava de “A Canalha”, dedicava-lhe amizade e brincadeiras, inclusive, proporcionando-lhe impecável trajar e viver. Encomendava cartões de visita com endereço do Monroe, antigo prédio do Senado, no Rio, ditos dali vindos.
Parte de “sua imensa fortuna” constituía-se de 12 aviões, 27 navios, 72 fazendas com 30 milhões de cabeças de gado, 16 trilhões de cruzeiros, 15 mil quilos de ouro em barras e a cachoeira de Paulo Afonso com direito de exploração até o ano 4820.
E sobre Juscelino Kubitscheck: “Pessoa não reconhecedora deste que lhe importante. Foi meu vaqueiro durante muito tempo. Fiz dele gente. Tirei-o do nada e do chapéu-de-couro para instalá-lo no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte.”.
Ao pertinente a última vitória eleitoral conseguida, afirmava: “Tive 17 trilhões de votos, sem falar no meu individual. Há um decreto do governo, considerando-o equivalente a 2 mil sufrágios!”.
Próxima semana: Senador vitalício do povo II.
Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.
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