Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

VERDADE E CARÁTER


VERDADE E CARÁTER
Oswaldo Evandro Carneiro Martins

Andou a ciência à sombra do ocultismo, até que assumiu papel racionalizante em termos de verdade. Abundam exemplos de resistência a esse desenvolvimento gnosiológico, de forma que anomalias e normalidades do caráter eram definidas e tratadas em moldes impróprios, embora se verificassem regularidades e coincidências em bases litúrgicas. É o caso da doutrina pitagórica dos números considerados como determinantes de processos nosológicos  ou psiquiátricos do corpo e da alma. Cria-se que cada oitavo termo de uma serie era o inicio de nova função em qualquer ssr. A isto se chama faseologia, que são princípios vislumbrados como sendo: Física, Sociologia, psicologia, Epistemologia, Antropologia, Genética e Filosofia. Os que exercem suas atividades orgonímica ou ingenuamente – especialista ou generalistas, amadores ou curiosos, conscientes ou inconscientes – fazem-no inscritos faseologicamente, isto é, aplicando o seu saber à solução de problemas eventuais ou não que se oferecem em ciclo.
       Essa contingência tivêmo-la quando frequantávamos aula de canto lírico com o professor italiano Giovani Faini, trazido para Fortaleza pelo tenor cearense Henrique Blum. Àquela época o gênero artístico em tela se desenvolveu notavelmente. Impostação de voz, vocalize, respiração disfragmática e outras técnicas com que se aparelham e pontificaram Enrico Caruso, Beniamino Gigli, Tito Schipa, Nicolai Gedda, Renata Tebaldi, Bidu Sayão ete justificavam  a grande fama dos registros vocais agudos, não só nos pianíssimos ma sobretudo nos fortes.
        Lembramo-nos de José Jataí, cantor da PRE 9, baixo profundo que se dedicava e esforçava em prol de emitir também notas agudas; lembramo-nos de que campeava e era imitado Brasil adentro o tenor racional Vicente Celestino; lembramo-nos de que se criticava o “falsete” de quem não conseguia efetivar a mudança de baixo porofundo ou cantante para tenor dramático ou lírico, que chamam de “passagem”; lembramo-nos do mestre e maestro a recomandar ao aluno Fernando Marinho Anasalar o som vocal para absorver a referida transição e firmar os agudos mais altos sob expressão alveolar, para escamotear a tendência gutural; e lembramo-nos finalmente de que Faini fora tenor profissional mas era barítono nato.
        É que é fisiológica não só a limitação relativamente ao canto lírico – baixo profundo, baixo cantante, Barítono, tenor dramático, tenor lírico, contralto, soprano – mas que o é quanto às áreas de outros fenômenos como as cores – vermelho, amarelo, alaranjado, verde, azul, anil e violeta – cujo registro sétimo ocorre caracterologicamente e pedagogicamente.
     O registro da voz é como o do caráter humano cujas propriedades são extensivas. Um baixo não pode vir a ser tenor e vice-versa, não obstante ao modismo inconseqüente de tentar a conversão. Foi isso o que aconteceu ao próprio professor Faini, que procurara alcançar e fixar o registro vocal de tenor exercitando-se mais nos agudos que nos graves. Resultado disto: o tenor sobrecarregou a laringe nos agudos por sua própria vontade e decisão, isto é, caracterologicamente, desgastando as cordas vocais aludidas, como se tratasse de um violão em que o violonista pode abusar da resistência das primas em detrimento dos bordões.
     Faini nascera barítono na Itália, onde quizera vãmente ser tenor e afinal voltava no Brasil ao seu primitivo resistro de voz fisiológico – barítono – porquanto abusara, depreciara e destruíra o anterior voluntariamente assumido contra sua natureza. Sim, ocorreu-lhe um acidente, pois a sua laringe fora violentada numa faixa que ele desrespeitou e profanou, razão por que foi obrigado a recorrer mais tarde aos bordões originários, que artificial e tecnicamente desobrigara em termos caracterológicos.
    Reflita-se. Sejam a possessividade, a vaidade, arrogância e a má-fé, com uns mais e outros menos as tem e que levam a pessoa a ser diferente de si mesma. Faini vulnerou e sacrificou a laringe procurando ingloriamente transpor sem passaporte essa fronteira fisiopsíquica.
    Nem todo órgão estuprado pode recuperar-se e volver ao que era na sua origem, gênese ou geração. Conhecemos o caso trágico de um menino que repetidamente se maltratava na região sacrococigeana de encontro ao cabeçote da cangalha ao montar o jumento em que se transportava barris de água, como era comum antigamente. Seu organismo reagia, mais não se refazia do impacto, hematoma ou lesão, o que evoluiu para um câncer letal.
    A doença referida poderia ser causa ou concausa de recidivas durante o trabalho diário, habitual e atitudinal. Que se coartem aqueles que infligem o próprio caráter. As duas ilustrações que demos – do professor Faini e do menino – dão o que pensar.
     Não sei o que dizem os médicos, cientistas e profissionais correlatos sobre a tese que viemos expondo, mais um posgraduado no exterior ora em evidência eleitoral chegou a insinuar que seu novo profeta e líder no momento tinha câncer na laringe pelo poder dar pontas, estas extremos fazeológicos dos ciclos.
    O número 7 é onde se adelgaça um ciclo para transitar a outro contíguo. Esse argumento é que levou Benjamin Franklin a inventar o pára-raios. A energia destrutiva flui facilmente aí sem provocar catástrofe.
    Depois que explodiu na Itália, mercê de um raio, a sacristia de um templo católico ocupada como paiol de pólvora pelas tropas, utilizou-se suspicazmente o pára-raios. É que Franklin – físico, maçom e ipso facto herege – não era acreditado pelas autoridades religiosas, que então deixavam de proteger o patrimônio eclesiástico contra o fogo do céu.
     A verdade, porém, é que a falta de caráter expõe seu titular a riscos freqüentes e – podemos dizê-lo – a punições merecidas. Só adolescente muda a voz sem violentá-la.

Um comentário:

24 quadros disse...

Vicente, onde eu poderia encontrar alguma informação sobre o tenor Henrique Blum?