VERDADE E
CARÁTER
Oswaldo
Evandro Carneiro Martins
Andou a
ciência à sombra do ocultismo, até que assumiu papel racionalizante em termos
de verdade. Abundam exemplos de resistência a esse desenvolvimento
gnosiológico, de forma que anomalias e normalidades do caráter eram definidas e
tratadas em moldes impróprios, embora se verificassem regularidades e
coincidências em bases litúrgicas. É o caso da doutrina pitagórica dos números
considerados como determinantes de processos nosológicos ou psiquiátricos do corpo e da alma. Cria-se
que cada oitavo termo de uma serie era o inicio de nova função em qualquer ssr.
A isto se chama faseologia, que são princípios vislumbrados como sendo: Física,
Sociologia, psicologia, Epistemologia, Antropologia, Genética e Filosofia. Os
que exercem suas atividades orgonímica ou ingenuamente – especialista ou
generalistas, amadores ou curiosos, conscientes ou inconscientes – fazem-no
inscritos faseologicamente, isto é, aplicando o seu saber à solução de
problemas eventuais ou não que se oferecem em ciclo.
Essa contingência tivêmo-la quando
frequantávamos aula de canto lírico com o professor italiano Giovani Faini,
trazido para Fortaleza pelo tenor cearense Henrique Blum. Àquela época o gênero
artístico em tela se desenvolveu notavelmente. Impostação de voz, vocalize,
respiração disfragmática e outras técnicas com que se aparelham e pontificaram
Enrico Caruso, Beniamino Gigli, Tito Schipa, Nicolai Gedda, Renata Tebaldi,
Bidu Sayão ete justificavam a grande
fama dos registros vocais agudos, não só nos pianíssimos ma sobretudo nos
fortes.
Lembramo-nos de José Jataí, cantor da PRE 9, baixo profundo que se
dedicava e esforçava em prol de emitir também notas agudas; lembramo-nos de que
campeava e era imitado Brasil adentro o tenor racional Vicente Celestino;
lembramo-nos de que se criticava o “falsete” de quem não conseguia efetivar a
mudança de baixo porofundo ou cantante para tenor dramático ou lírico, que
chamam de “passagem”; lembramo-nos do mestre e maestro a recomandar ao aluno
Fernando Marinho Anasalar o som vocal para absorver a referida transição e
firmar os agudos mais altos sob expressão alveolar, para escamotear a tendência
gutural; e lembramo-nos finalmente de que Faini fora tenor profissional mas era
barítono nato.
É que é fisiológica não só a limitação
relativamente ao canto lírico – baixo profundo, baixo cantante, Barítono, tenor
dramático, tenor lírico, contralto, soprano – mas que o é quanto às áreas de
outros fenômenos como as cores – vermelho, amarelo, alaranjado, verde, azul,
anil e violeta – cujo registro sétimo ocorre caracterologicamente e
pedagogicamente.
O registro da voz é como o do caráter
humano cujas propriedades são extensivas. Um baixo não pode vir a ser tenor e
vice-versa, não obstante ao modismo inconseqüente de tentar a conversão. Foi
isso o que aconteceu ao próprio professor Faini, que procurara alcançar e fixar
o registro vocal de tenor exercitando-se mais nos agudos que nos graves.
Resultado disto: o tenor sobrecarregou a laringe nos agudos por sua própria
vontade e decisão, isto é, caracterologicamente, desgastando as cordas vocais
aludidas, como se tratasse de um violão em que o violonista pode abusar da
resistência das primas em detrimento dos bordões.
Faini nascera barítono na Itália, onde
quizera vãmente ser tenor e afinal voltava no Brasil ao seu primitivo resistro
de voz fisiológico – barítono – porquanto abusara, depreciara e destruíra o
anterior voluntariamente assumido contra sua natureza. Sim, ocorreu-lhe um
acidente, pois a sua laringe fora violentada numa faixa que ele desrespeitou e
profanou, razão por que foi obrigado a recorrer mais tarde aos bordões
originários, que artificial e tecnicamente desobrigara em termos
caracterológicos.
Reflita-se. Sejam a possessividade, a
vaidade, arrogância e a má-fé, com uns mais e outros menos as tem e que levam a
pessoa a ser diferente de si mesma. Faini vulnerou e sacrificou a laringe
procurando ingloriamente transpor sem passaporte essa fronteira fisiopsíquica.
Nem todo órgão estuprado pode recuperar-se
e volver ao que era na sua origem, gênese ou geração. Conhecemos o caso trágico
de um menino que repetidamente se maltratava na região sacrococigeana de
encontro ao cabeçote da cangalha ao montar o jumento em que se transportava
barris de água, como era comum antigamente. Seu organismo reagia, mais não se
refazia do impacto, hematoma ou lesão, o que evoluiu para um câncer letal.
A doença referida poderia ser causa ou
concausa de recidivas durante o trabalho diário, habitual e atitudinal. Que se
coartem aqueles que infligem o próprio caráter. As duas ilustrações que demos –
do professor Faini e do menino – dão o que pensar.
Não sei o que dizem os médicos, cientistas
e profissionais correlatos sobre a tese que viemos expondo, mais um posgraduado
no exterior ora em evidência eleitoral chegou a insinuar que seu novo profeta e
líder no momento tinha câncer na laringe pelo poder dar pontas, estas extremos
fazeológicos dos ciclos.
O número 7 é onde se adelgaça um ciclo para
transitar a outro contíguo. Esse argumento é que levou Benjamin Franklin a
inventar o pára-raios. A energia destrutiva flui facilmente aí sem provocar
catástrofe.
Depois que explodiu na Itália, mercê de um
raio, a sacristia de um templo católico ocupada como paiol de pólvora pelas
tropas, utilizou-se suspicazmente o pára-raios. É que Franklin – físico, maçom
e ipso facto herege – não era acreditado pelas autoridades religiosas, que
então deixavam de proteger o patrimônio eclesiástico contra o fogo do céu.
A verdade, porém, é que a falta de caráter
expõe seu titular a riscos freqüentes e – podemos dizê-lo – a punições
merecidas. Só adolescente muda a voz sem violentá-la.
Um comentário:
Vicente, onde eu poderia encontrar alguma informação sobre o tenor Henrique Blum?
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