Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

QUATRO POEMAS DE SÉRGIO MACEDO


QUATRO POEMAS DE SÉRGIO MACEDO


A VIDA E EPICURO.

Não temo os deuses,
Eles são eternos,
Não os molestarei jamais, pertenço a finitude.
Não temo a morte, ela não me alcançará,
Partirei antes que chegue, estará frustrada.
A dor terá fim de qualquer forma, não há dor eterna.
 O amor, força universal,
Pertence a um mundo que não permanece nem termina,
É um mover de pedras no deserto,
Um brilhar de rochas, às vezes, desprezadas,
É um dormir até antes de acabar o cansaço,
O beber água antes de terminar a sede.
O terminar o prazer obtido em qualquer forma,
No momento exato em que se acabe.
A vida precisa de métodos e tempos,
Precisa de intervalos entre os intervalos
E entre as guerras de todo dia.
Eu sou limitado, mas não a vida.



POEIRAS DA SAUDADE  

Estilhaços de saudade
Sobram em minha face tardia.
A vida explodiu em silêncio e tempestade,
E, na tarde a luta se desvaneceu em tempo,
Nem aquela espuma existe mais.
Nem a brancura da espuma,
Nem a brancura da alma, nem a alma.
Vivo a luta da paz imposta
Enquanto bato em várias portas divinas
E sem eco. Talvez minha voz esteja em ruínas.
Talvez os meus ministros tenham ido embora,
Certo é que meus soldados me deixaram.
As nuvens me entregaram o sol numa bandeja.
As fotos flutuaram na praia e nos castelos
E foram embora,
Embora não quisesse.
As armas estão em meus quartéis.
Os leitos em meus aposentos,
A poeira queima meu dorso e resseca meu peito.
Poeira de saudade sobra em minha face tardia...




QUANTO SOU DE MIM??

Quanto sou de mim
Quando te beijo, vejo, manejo,
Esquartejo em quatro salas,
Uma de visitas, uma da cama, de quem ama,
Uma biblioteca e uma sem nome.

Quanto sou de mim,
Quando me acordo ou acordo pelo vagar dos passos
Quanto sou de mim quando me deito e sonho,
Durmo ou sou dormido pelo cotidiano cansado e sórdido?
 Quanto sou de mim quando te visito nas caladas da vida
E vou à tua cama? Quanto sou?

E nos teus livros que visito tenazmente, tua mente?
E naquela sala sem nome, de segredos,
Quanto sou de mim quando estou lá?
Desnudo de incompreensões e ética?
Aliviado de pretensões, ânsias sombrias?

Quanto sou de mim, quando participo de teu sonho?
Quando sou apenas ilusão e passo?
Quanto sou de mim no dar a esmola?
Quanto sou de mim roubando o sacristão?
Quanto não sou de mim, quando te amo?



COLAPSO



O colapso de mim
É a vertente maior dos medos,
O frágil rompendo com o inatingível,
O sofisma com a impossibilidade,
O medo com o próprio maior temor,
A perda de si próprio.
Colapso corresponde ao esvaziamento da alma,
Alma desolada de vontades,
Cresceu, mas não seu conteúdo,
Virou balão de soprar meio murcho, vagando pelos jardins,
Depois da festa.
Virou guardanapos em redemoinho, vagando pelo jardim,
Depois da festa.
Virou garçons cansados, recolhendo copos e taças quebradas do chão,
Vagando pelos jardins, cansados, depois da festa.
Roupa amontoadas pelo chão, suada,
Vestidos de festa perdidos, ternos amarrotados.
Decepções exaustas,
Olhos de brilhantes, mudados em cinza,
Casa desarrumada.

Sérgio Macedo 

Um comentário:

Unknown disse...

O poeta sempre com a alma na ponta da pena.