O renascimento, oscilando entre Galileu Galilei (1564 – 1642) e Michel de Nostradame (1503 – 1563) trouxe a modernidade, composta de verdade objetiva e universal; impessoalidade; laicismo; liberdades negativas; reconhecimento da individualidade; responsabilidade pessoal; da liberdade de agir e fazer, com a liberdade dos agentes econômicos.
A ciência deu um salto. A mortalidade infantil e o analfabetismo cairam. A esperança de vida cresceu. A escolaridade média e o acesso aos bens cresceram. A liberdade individual e proteção de minorias cresceram. Fenômeno europeu, a modernidade atravessou o Atlântico Norte. A sua difusão continua espalhando benefícios.
Mas a Revolução Industrial é difamada. A vida nos primeiros tempos da atividade fabril era duríssima. Isso foi apresentado como uma grande maldade. Esqueceram-se os críticos de que os camponeses migraram para as fábricas porque a situação no campo era pior. Mulheres e crianças não foram retiradas de uma vida boa, mediante coação, para viver nas fábricas. Não foi ilusão. Os camponeses não retornaram ao campo. A lenta melhoria das condições de vida, ao lado da persistência de parcelas da população não alcançada plenamente pelos benefícios da modernidade, alimenta equívocos e exploração política. Mas natura non facit saltum, a civilização também não.
Os sucessos da Revolução Científica encheram o Iluminismo de arrogância. Sócrates (? – 399 a. C.), conforme Platão (428/9 – 347/8), entendia que o mal era ignorância. O conhecimento seria sabedoria, aperfeiçoaria o homem. Tal intelectualismo é presunção ilusória de superioridade moral dos intelectuais. O Iluminismo aceitou o monismo metódico e deu às ciências sociais a credibilidade das ciências da natureza. Previsão e precisão estariam presentes nas supostas leis da História vislumbrada pelos “esclarecidos”, aptos a promover a reengenharia social aparentada com “A República” de Platão. A desilusão deste autor com as próprias especulações, em “As leis”, foi esquecida. Nova moral, nova organização social radicalmente diferentes, seriam criadas pelos “esclarecidos”, novos reis filósofos politicamente corretos.
O desenvolvimento da ciência e a liberdade não teriam os créditos pelo bem-estar, mas as lutas políticas. O descrédito das “leis da História” exigiram. Intelectuais não contribuem para a ciência. Têm interesse no ativismo como receita do mundo melhor. Vacinas e antibióticos respondem por melhores índices de mortalidade infantil. O acesso aos bens tiveram origem no fordismo, taylorismo e crediário. Os EUA e a Suiça foram os primeiros a popularizar o acesso aos bens materiais e não tinham “movimento operário” importante, ausentes também entre os tigres asiáticos. O status da mulher mudou em decorrência de fatores alheios ao ativismo: a Revolução Industrial, as grandes guerras e a pílula anticoncepcional. O primeiro convocou a mulher para as fábricas; o segundo para substituir o homem enviado para a guerra; o terceiro foi uma invenção não reivindicada por movimentos sociais. Os “reis filósofos” quando no poder atrasaram o bem-estar social. A sequela do iluminismo permanece. As delícias do Estado provedor são enganosas.
A nova moral promove a aculturação forçada. Povos aculturados perdem referências. Desorientam-se. Suicídio, dependência química e violência são frutos da aculturação. Todos querem proteger os índios de tais efeitos. Mas quando os índios somos nós a aculturação é imposta implacavelmente. Preconceituoso, ignorante e machista é o rótulo dado a quem resiste.
Desqualificar os valores do outro é tática perversa. Substitui a cognição por manipulação, conforme Pascal Bernardin (1960 – vivo), em “Maquiavel pedagogo”.
Fortaleza, 10/9/19.
Rui.
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