O CRESCIMENTO ECONÔMICO
O Brasil foi, durante décadas no século
XX, campeão mundial de crescimento econômico. Tínhamos um grande fluxo
migratório interno, no sentido campo cidade, que favorecia o aumento da
produtividade. Ainda que não qualificada, a força de trabalho alcançava maior
produtividade no meio urbano. Na cidade a escolaridade da população aumentou, o
que também repercutia favoravelmente na economia. A dinâmica demográfica
adicionava, a cada ano, grande número de jovens ao trabalho. A baixa esperança
de vida somava, anualmente, poucos idosos dependentes de aposentadorias e
pensões. Não havia tanta facilidade de investir no exterior, o que forçava
corruptos a investir no Brasil. Substituíamos importações fazendo crescer a
nossa indústria. Contraíamos dívidas principalmente para fazer obras, ensejando
uma classificação dos presidentes como “mestres de obras e guarda-livros”,
correspondendo aos que faziam obras contraindo dívidas, tornando-se populares;
e os que saneavam as finanças arcando com a impopularidade, nas palavras de
Roberto de Oliveira Campos (1917 – 2001). O Estado era menos burocrático,
impunha uma carga tributária muito menor que a de hoje e era o grande
investidor.
A dinâmica demográfica tornou-se
desfavorável. O fluxo migratório do campo para as cidades quase desapareceu. A
escolaridade já não tem muito como crescer quantitativamente, restando muito o
que fazer do ponto de vista qualitativo. O benefício do aumento da esperança de
vida impõe o ônus crescente das aposentadorias e pensões. O número de jovens
acrescentados ao trabalho é muito menor proporcionalmente à população. O Estado
é maior, mais burocrático, mais caro, conta com recursos humanos mais
qualificados, arrecada mais tributos e investe cada vez menos. Segue a
tendência das burocracias públicas para crescer em gastos enquanto perde
eficiência. Passamos a contrair dívidas para fazer gastos correntes ou
previdenciários. Há muito não temos presidente guarda-livros nem mestre de
obra. A nossa capacidade de endividamento esgotou-se. Quanto mais os poderes
públicos arrecadam mais se endividam. Deixamos de ser campeões do crescimento
econômico e de desfrutar de baixos índices de desemprego. Padecemos do
desemprego crônico e elevado. A substituição de importações chegou ao fim. A
corrupção agora leva dinheiro para o exterior.
Há quem queira voltar ao tempo do Estado
locomotiva do investimento. Não querem, porém, redirecionar os gastos sociais para
o investimento produtivo, com as consequências que tivemos no tempo do
crescimento acelerado: inflação, dívida e desigualdade social aguda. No passado
não havia outra opção. Não havia tanto capital privado interno e externo e a dinâmica
demográfica, encargos sociais e gastos correntes, agora são desfavoráveis.
As mesmas vozes que
sonham com a volta do Estado varguista, contraindo dívidas indefinidamente,
investindo e favorecendo empresários amigos a troco de propinas, condenam a
desigualde econômica e social, o pagamento de juros e até do principal das
dívidas que tanto querem contrair. Trata-se de uma visão de mundo focada nos
direitos sociais, na superação das desigualdades, na convicção de que os
gestores do Estado são sábios e justos, farão “o que é certo” e este certo dará
certo. Não importa que tal proposta, a longo e médio prazo, tenha fracassado em
todas as suas experiências concretas. Acrescente-se a convicção de que o
ativismo político, com a força do voluntarismo, pode concretizar os objetivos
aludidos. Não importa que isso nunca tenha alcançado êxito.
Fortaleza, 25/9/19.
Rui Martinho Rodrigues.
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