Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Bandido baleado desperta sede de sangue em “gente de bem”

Bandido baleado desperta sede de sangue em “gente de bem”

O mais recente deles é aquele que mostra um policia baleando um dos assaltantes que tentaram roubar uma moto de um cidadão. A cena toda foi filmada pela câmera instalada no capacete da vítima. Veja abaixo:
O que aconteceu foi muito simples: dois vagabundos folgados e desprovidos de uma mínima noção de civilidade tentaram assaltar e um deles se deu mal – está hospitalizado e vai em cana muito em breve. O outro logo será capturado, tanto pela exibição explícita de seu rosto como pela vontade da Polícia em usá-lo como exemplo. Ponto. A história deveria parar por aqui, com elogios ao policial, que deu dois ‘pipocos’ na perna e na barriga do “mano meliante” que lhe apontou uma arma. Deveria, mas não vai...
Não vai porque fiquei impressionado com a reação das pessoas ao vídeo. Fiquei com a impressão de que voltamos aos tempos das hordas sanguinárias de Genghis Khan e dos espetáculos no Coliseu de Roma, tamanha foi a quantidade de gente urrando de prazer pelo bandido abatido. E o pior: gente que provavelmente ficaria muito assustada se fosse assaltada e que jamais reagiria. Ou seja, os famosos “valentões de computador”, que assumem a personalidade de um vingador mascarado e sanguinário só na frente de um monitor, de um teclado e de um mouse. Na hora  do “vamos ver”, toda a valentia escoa pela urina entre as pernas...
É claro que todo e qualquer bandido tem que se dar mal. Sempre. Em qualquer circunstância. E lugar de todo bandido é na cadeia, depois de ser julgado e condenado. Morto? Só se o cara reagir armado à voz de prisão. Ponto. Simples assim.
Só que nesta história há o velho problema de sempre: a impaciência da população perante o incessante crescimento da violência nos centros urbanos. É exatamente isto o que leva a multidões virtuais a comemorar o “abate” de mais um ladrão, o linchamento de mais um estuprador, o julgamento sumário de um assassino. E este pessoal está errado. Muito errado.
A julgar pelo êxtase sanguinário que verifiquei nas redes sociais por conta do desfecho do caso acima, corremos o risco de, muito breve, passarmos a desprezar a Justiça em si, abrindo mão de “julgamentos arrastados e chatos” que só condenam pessoas pobres que, posteriormente, viverão “comendo e dormindo” na cadeia. Vai chegar o momento em que as pessoas vão defender que toda esta “chatice” deve ser abolida e resolvida rapidamente com uma execução, seja ela oficial ou não.
Você acha que defende uma coisa destas é “gente de bem”? Eu não. E sabe por quê?
Porque isto vai abrir um precedente perigosíssimo. A partir do momento em que tal estado de coisas se tornar a “lei”, todas as regras de convivência em harmonia irão para um ralo cheio de restos sangrentos de miolos estourados. Cada um vai se achar no direito de resolver as suas desavenças na bala, na faca, no machado, na vassoura ou no que quer que seja. E pior: com direito a filminho do “justiçamento” no YouTube, que é para todo mundo ver o quanto você é ‘fodão’...
Você sentiria o mesmo dever de “justiça feita” no caso do rapaz baleado pelo corajoso policial se o meliante fosse seu próprio irmão? Aí você iria querer um julgamento justo por conta do Estado, com advogados, promotores e júri, tudo direitinho, sem barbárie, né?
Pense nisto antes de bancar o “Rambo/Charles Bronson/Schwarzenegger” de araque que você pensa ser antes de saudar a morte de alguém...

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