Reino da Glória II
Geraldo Duarte*
De tão amado, chamavam o cabaré de “Paraíso”, “Escritório” e “Reino da Glória”. E Crato prosperava.
Passou a ter juíza de Direito. A doutora Auri de Moura Andrade (1910 – 1991). Ao meio às decisões primeiras, em 1959, transferiu os lupanares da Glorinha, do Odilon, do Velho José Alves, e da Iraci para a periferia.
Até hoje, a quadra inicial da Rua Nelson Alencar, dada a lamúria dos frequentadores, é sempre denominada Rua da Saudade.
Glorinha adquiriu duas casas na Rua Ratisbona, próxima da antiga Estação da Rede Ferroviária Cearense (RVC), atual Casa da Cultura, e reformou-as. Uma, destinou-se ao cabaré. Outra, ao lar, após casar com o senhor Jacó Cortês.
Como não poderia deixar de ser, causos enriqueceram a existência daquele ambiente prazenteiro.
Inteligente e conhecido jovem cratense prestou concurso, obteve aprovação e tomou posse, sendo funcionário da agência do Banco do Brasil. Cumpridor exato do expediente e das tarefas, não se atrasava, tampouco permanecia depois do horário. Hora extra? Nem falar.
Durante uma auditagem, o gerente fez comentários sobre o subordinado e sugeriu ao auditor contatar e sensibilizá-lo, objetivando progresso na carreira bancária.
À noite, no Reino da Glória, o auditor tentou o convencimento, sem êxito, chegando a concordar com os contra-argumentos: “Sabe, você ta certo! O Banco está cheio de neuróticos. Aquilo é fábrica de fazer doido!”.
Pedra hume era usada em barbearias no estancar sangue, mas barbeiros nunca a encontravam na farmácia. Um quis saber o motivo da falta. “Chegou, as meninas da Glorinha compram tudo! Pra que? Vá perguntar a elas!”.
*Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.
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