Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Crato imperial / Geraldo Duarte*

Crato imperial
 
Geraldo Duarte*
 
Décadas de sessenta e setenta do século passado. Ruas e praças centrais da terra do Padre Cícero. Nova monarquia fazia-se diuturnamente noticiada e ansiosamente aguardada por dois intransigentes defensores.

Garantiam que forças militares organizavam-se e eram planejadas intensas e ferrenhas batalhas. Datas chegaram a ser aprazadas. O Crato seria invadido e tropas combatentes instalariam um competente e boníssimo imperador no trono.

Soldados fortemente armados e em expressivo número marchariam pela cidade, objetivando a tomada do poder e a pacificação dos revoltosos. Ordens superiores do levante chegariam a qualquer instante. O desejado e esperado era não haver derramamento de sangue. E a população não se opor a invasão.

Assim pensavam, anunciavam e preparavam o povo, que homenagearia as majestades do futuro império, Compadre Chico e o subalterno Frutuoso. Semelhanças com o engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha, acompanhado do fiel escudeiro Sancho Pança da obra de Miguel Cervantes Savaavedra (1547-1616).

Chico, sempre empunhando um cacete, como cetro fosse, mostrava-se pessoa tranquila, sem vícios, conversador e divulgador único do reino cratense. Expunha suas ideias ao público, inclusive explicando-as e trocando-as com quem desejasse.

Enquanto isso, o devotado Frutuoso, seu acompanhante de todos os momentos, defendia-o e ao regime monárquico para a felicidade caririense. Tornara-se sombra daquele que adotara como líder.

Vários foram os personagens míticos que enriqueceram as narrações dos contadores de histórias, de causos e, até, de tratados universitários relacionados ao viver desses indivíduos merecedores de especiais assistências públicas.

Aqui, informe-se terem, nas mesmas épocas, além de Compadre Chico e Frutuoso, vividos Maria Caboré, Pernambucana, Tandôr, Dona Joaquina, Dona Isabel Baixeirinha, Moipen, Pedro Cabeção e Antônio Corninho. Cada deles com suas manias, trejeitos e reações diversas quando instados ou desrespeitados nos modos vivenciais.

As doutoras Cleide Correia de Oliveira, Francisca Bezerra de Oliveira, Maria Luzinete Furtunato e Antônia Oliveira Silva, professoras da Universidade Regional do Cariri (URCA), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e Universidade Federal da Paraíba (UFPB) uniram-se num estudo sócio-histórico acadêmico deveras importante, talvez inédito na forma de abordagem e análise, levando os ledores a compreensões bem humanistas e solidárias a aqueles nossos relegados semelhantes.

“Loucura em Liberdade: Vivências e Convivências em Crato – CE (1930-1970)” é o título deste trabalho, podendo ser encontrado na internet em http://www.redalyc.org/html/2670/267019643005/
 
                                  *Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.

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