PEDIATRA ANTONIO LISBOA GANHA
GRANDE HOMENAGEM EM BRASÍLIA
Meus filhos, acabo de ler no blog do Claudio Humberto, o Diário do Poder, que o Doutor Antônio Lisboa, o mais querido e competente pediatra do Brasil, continua trabalhando aos 93 anos de idade, e está sendo homenageado pela cidade de Brasília.
Vocês certamente não têm a menor lembrança do fato que aconteceu por volta de 1984, quando a Rhaina tinha seus quatro anos e a Laila apenas dois. O querido (e escancaradamente simpático) Doutor Lisboa era o pediatra de vocês duas (e do Fernando também).
Morávamos em Brasília, e aconteceu de vocês duas contraírem uma pneumonia braba que deixou a mim e à mãe de vocês completamente apavorados.Então nós as internamos na clínica do Lisboa, onde eu vivi uma das piores noites da minha vida, principalmente porque ainda estava muito viva em nossas lembranças a tragédia que nos levou a primeira Rhaina em outubro de 1979. Naquela noite horrorosa, vocês duas sedadas, tomando soro na veia, e todo aquele insuportável sentimento de impotência, de medo, de entendimento da gravidade do quadro, eu procurava manter uma aparente serenidade para que sua mãe não ficasse mais apavorada ainda.
Eu botei na cabeça que não deveria dormir, era minha obrigação manter-me vigilante, controlar o gotejar do equipo de soro e, para manter-me desperto, apenas caminhar no reduzido espaço de quarto, rezar, segurar uma enorme vontade de chorar que me engasgava, e pedir a Deus que não me desse a beber outro daquele cálice intragável de 1979 (tenho certeza que eu não suportaria). Por vezes eu me encostava na parede segurando um livro, técnica que me foi ensinada pelo papai, pois enquanto seguramos o livro estamos ¨acesos¨, se o sono chega o livro cai ao chão, nos acorda, e nós escapamos de cair.
A cada vinte ou trinta minutos o Doutor Lisboa vinha ao quarto, media pressão arterial, batimentos cardíacos, e com um sorriso simpático dizia:¨ Ellery, está tudo bem, vai dormir¨. Eu apenas respondia: ¨Eu estou sem sono¨. Foi assim a madrugada inteira. Que madrugada interminável!
Ao amanhecer o dia, vocês duas já despertando, fui ganhando um novo alento, pois percebi que estavam reagindo bem aos medicamentos poderosos que o Doutor Lisboa ministrara. Pelas oito horas o Doutor Lisboa estava passando o plantão para outro médico, e eu ouvi quando ele disse :¨Agora eu estou mais tranquilo, mas durante a madrugada eu fiquei muito preocupado com essas duas.¨ Eu então disse ao meu querido Lisboa: ¨Você pensou que me enganava com aquela história de ¨vai dormir, está tudo bem¨? ele respondeu: ¨Como é que você desconfiou que o quadro era grave, já que eu sempre tento passar para os pais a máxima tranquilidade?¨ Eu já tranquilo, confiante, respondi: ¨Lisboa, se estivesse tudo bem você não viria vê-las a cada meia hora¨. Ele apenas sorriu e disse: ¨Você é mais esperto do que eu pensava¨. Entre sorrisos aliviados trocamos um forte abraço, eu só consegui dizer: ¨Obrigado, meu amigo Lisboa, muito obrigado!¨
Humberto Ellery
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