A PROPAGAÇÃO PERFEITA
A atual pandemia resulta das condições
de propagação do vírus. Os fatores que a impulsionam são classificados como
relacionados ao agente etiológico, ao modo de transmissão, ao hospedeiro e ao
ambiente. No caso presente todos concorrem para a disseminação da infecção.
O agente tem elevadíssima infectividade,
que é a capacidade de se instalar no hospedeiro, permanecer e se multiplicar.
Por isso o menor contato é suficiente para a transmissão. Quantidades mínimas
de inoculação bastam para transmitir a infecção. A patogenicidade, que é
capacidade de manifestar sinais e sintomas evidentes da doença, se dá
tardiamente, ensejando a transmissão pelo portador aparentemente são, durante o
período de incubação. A virulência, ou poder de provocar efeitos patológicos
graves, tambem é baixa, originando a figurante do doente acometido de sinais e
sintomas leves, que a semelhança do portador são, continua circulando e
transmitindo a infecção. Aspectos clinicamente favoráveis, neste caso, são
epidemiologicamente desfavoráveis. A capacidade do agente sobreviver no ambiente
é outro fator importante. Conforme notícias, este vírus continua viável por até
doze horas em superfícies secas do ambiente. Todos os fatores do agente são
favoráveis a disseminação.
Os fatores relacionados com o modo de transmissão,
no caso do coronavírus, também favorecem a rápida disseminação do agente
infeccioso, que pode ser inoculado pelas vias respiratórias e pelas mucosas. Isto
é: ser aspirado com o ar, veiculado por gotículas em suspensão. Basta partilhar
o ambiente de um elevador, ônibus, avião, restaurante, sala de aula, teatro,
bar e até ambientes abertos, quando pedigotos de portadores estejam presentes
no ar, espargirdos pela tosse, espirro ou simplesmente pela fala de um
transeunte situado a pequena distância, situação que impõe isolamento como
prevenção. A inoculação pelas mucosas é propiciada pelas mãos que coçam os
olhos, visitam o nariz ou outras superfícies corporais menos protegidas pela
barreira tegumentar, originando a necessidade de lavar as mãos constantemente.
Fatores do hospedeiro não faltam.A
situação é perfeita para a propagação do vírus. A população mundial nunca teve
uma parcela tão grande de idosos, que são vulneráveis ao agente, originando
situações graves e superlotando hospitais e ambulatórios. Netos nunca foram tão
cuidados pelos avós. Registre-se que as crianças são levemente acometidas pela
covid-19, tornando-se veículos que transportam a infecção até os avós, hospedeiros
vulneráveis. Imunodeprimidos por comorbidades tornaram-se mais comuns devido ao
envelhecimento da população e maior incidência e prevalência de comorbidades
como diabetes, cadiopatias e tantas outros quadros que fragilizam pessoas.
Nunca tivemos tantos hospedeiros tão vulneráveis, tanto do ponto de vista da
disseminação, como da severidade do quadro produzido pela infecção.
A globalização criou um
mundo integrado. Turismo e viagens de negócio nunca foram tão frequentes. Nunca
tivemos cidades tão grandes, com tantos elevadores, ônibus, metrôs e
restaurantes. A escolaridade nunca foi tão ampla e tão precoce, aglomerando
pessoas nas escolas. Os fatores do ambiente nunca foram tão favoráveis ao vírus.
A vida extradoméstica nunca foi tão intensa. Fatores que contribuem para uma
boa qualidade de vida estão agravando a pandemia que está levando ao discreto
abandono de idosos doentes, por absoluta impossibilidade de atendê-los, na
Europa ocidental bem dotada de serviços de saúde.
Tudo concorre para uma
tempestade perfeita.
Fortaleza, 17/3/2020.
Rui Martinho Rodrigues.
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