HUMBERTO ELLERY ESCREVE:
HAMLET :Calúnias, meu amigo[...] porque se pudésseis ficar
tão velho quanto eu, sem dúvidas andaríeis para
trás, como caranguejo.
POLÔNIO(`A parte): Apesar de ser loucura, revela método.
A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca (Ato II, Cena II) William Shakespeare
Meus caros, a tragédia do Príncipe Hamlet, escrita por Shakespeare, conta sobre o assassinato do Rei Hamlet,
envenenado por seu irmão Claudio, que assim apoderou-se de duas coroas: a do Reino da Dinamarca, e a ¨coroa¨Gertrudes, a Rainha, mãe do infeliz Príncipe Hamlet.
O fantasma do Rei aparece ao Príncipe, relata sobre o assassinato, e lhe cobra vingança, que mate seu tio, o agora Rei Claudio. Assustado com tamanha empreitada, inclusive sem saber como faria para cometer o regicídio, e para permanecer no palácio real (enquanto tramava o assassinato), resolveu fingir-se de louco, para afastar suspeitas.
O conselheiro real Polônio, encarregado de sondar o príncipe, percebe em uma conversa que, apesar de aparentemente louco, ele ainda preservava sua agudeza intelectual.
Estou me referindo a essa peça do Shakespeare, porque sua releitura me fez pensar num fato de hoje. É que nesses tempos de quarentena, tenho aproveitado o dolce far niente para dedicar-me ao ¨ócio criativo¨ (Domenico de Masi), embora às vezes eu pense que, de tão cheio¨o saco vai explodir¨(perdoem a expressão vulgar, padrão Olavo de Carvalho). Pois é; só eu e Deus nesta casa, e Deus ultimamente não tem me dado muita atenção (culpa minha, não d´Ele), restam-me a TV, o computador e meus livros (sendo que a quase totalidade eu já li).
Sobre a Política, tema que sempre foi do meu agrado, onde inclusive militei por largos períodos de minha vida, recentemente resolvi parar de debater via Internet, por não suportar o ambiente de Coliseu Romano, onde todos querem ver sangue, onde as argumentações lógicas foram substituídas por agressões e insultos, onde as redes (anti)sociais ¨deram voz a uma legião de imbecis¨(Umberto Eco), onde a pluralidade de pensamentos e posicionamentos políticos foram substituídas por um radicalismo intolerante e intolerável, de uma violência verbal estúpida, onde duas seitas ferozes, os ¨bolsonáticos¨e os¨luloucos¨, com cotoveladas, caneladas e até ameaças físicas expulsaram de campo os que apenas querem ter o direito de divergir. Eu, que não sigo nem Lula nem Bolsonaro, não suporto esse maniqueísmo tosco, fiquei sem espaço. Nem quero disputar espaço nesse campo conflagrado. Vade retro!
Mas a quarentena, a releitura de Hamlet, e a enxurrada de bobagens que têm sido ditas me atraíram de volta.
E o que tem Hamlet e ver com o Presidente Bolsonaro? Lá vou eu!
O posicionamento do Presidente Bolsonaro, ao propor o fim da quarentena, indo de encontro aos mais respeitados especialistas médicos, o exemplo do Prefeito de Milão Giuseppe Sala, a própria OMS - Organização Mundial da Saúde, e o simples bom senso, ergueram contra ele um clamor: ¨o homem tá louco!¨ Não sou Psiquiatra, não sou Psicólogo, nem tenho a sagacidade do Polônio, mas acho que pode até ser loucura, mas tem método.
Inclusive vislumbro uma inteligência superior por trás disso tudo. Talvez o ex-astrólogo, ex-islamita e ex-croque
Olavo de Carvalho, o auto intitulado filósofo que é o Guru da Dinastia Bolsonaro. O ¨papagaio de zona¨( mesmo quem não gosta dele reconhece) é muito inteligente, culto e tem uma invulgar capacidade de convencimento, exímio argumentador.
Como diria Jack, The Ripper, vamos por partes. Ato I, Cena I : o Presidente Bolsonaro convoca uma reunião para debater e tomar decisões sobre a Pandemia, e convida os Presidentes dos Poderes Judiciário e Legislativo e demais Instituições envolvidas. Estranhamente fala em união, respeito e cooperação de maneira calma, educada e serena.
Assistindo aquela cena pensei: está querendo conquistar o eleitorado mais equilibrado, não vai consegui-lo e vai perder apoio entre os pitbulls que o seguem nas redes (anti)sociais. Não deu outra, nos dias seguintes a mídia começou a divulgar seu ¨derretimento¨nas redes.
Ato II, Cena I : O filho zero dois, para estancar a sangria, certamente recorreu ao Guru da Virginia que traçou o roteiro. Sim, porque nem o zero um, nem o zero dois, nem o zero três, nem o próprio pai, o zero à esquerda, têm QI para tomar atitude tão esperta.
Ato III, Cena I : Com aquela sua declaração estúpida, priorizando a salvação da Economia em detrimento da salvação de Vidas, o Zero à Esquerda conseguiu dois objetivos a saber: Em primeiro lugar recuperou o apoio de seus pitbulls nas redes (anti)sociais, que o idolatram justamente por suas atitudes beligerantes e estúpidas, e em segundo lugar arranjou uma bela desculpa para o dantesco fracasso da sua condução da Economia, que já caminhava para o brejo (ver Pibinho, ver fuga de capitais externos, tudo anterior ao Coronavírus) e que a Pandemia só vai piorar, e muito. E a culpa será dos Governadores, como ele berrou no portão do Alvorada: ¨Eles arrebentaram o País! É um crime!¨.
Fecham-se as cortinas.
Humberto Ellery