EXTREMISMO
A
adjetivação extremista tem se tornado frequente. Os significados dicionarizados
do termo podem ser preconizar soluções radicais (ir à raiz), revolucionárias,
violentas, imposição de práticas, costumes ou ideias pela força ou coação, autoritário,
totalitário. A sinonímia remete a radical, violento, intransigente, inflexível,
completo, integral.
Conduta
típica do extremismo é focar nos pontos inconciliáveis, evitando os conteúdos
em que possa haver uma composição ou entendimento. As bases do extremismo são
desconhecidas por muitos extremistas.
Uma
destas bases é a Teoria da História que pretende ir à raiz das explicações,
exaurindo-as com reducionismos, como aquele que considera o conflito o motor
das mudanças históricas, promovendo a conduta conflitiva (na guerra vale tudo).
A concepção das ciências humanas como normativas, ao invés de meramente
descritivas, compreensivas ou – quando muito – explicativas é outra das bases
aludidas. Supostamente fundamentam juízos valorativos, introduzindo a concepção
maniqueísta de luta do bem contra o mal ou “nós contra eles”. A teoria do
conhecimento que tem a presunção de “partir do real”, apresentando-se como a
expressão da realidade, embora pratique abusivamente uma “hermenêutica engajada”,
enseja a visão do outro como ignorante ou agente do mal.
A
concepção de consciência falsa, atribuída à maioria, e a verdadeira, que seria
a dos “esclarecidos”, leva ao verbo conscientizar, eufemismo para “fazer a
cabeça”. Aqueles de falsa consciência devem ser catequizados. Os letrados que
resistem à catequese devem ser destruídos, sem embargo das proclamações por uma
cultura de paz. Contradições não inibem a presunção de consciência superior. A
defesa do relativismo cognitivo e axiológico não impede a qualificação das próprias
cogitações como indubitavelmente verdadeiras. O uso de adjetivos pejorativos é
típico do extremismo. A adjetivação é a prática de quem não tem argumento e
tenta desqualificar ou intimidar o outro e subestima a capacidade de leitores ou
ouvintes para proceder a qualificação autonomamente.
A
falta de informação e a desinformação também exercem poderosa influência na
gênese do extremismo. As redes sociais, como toda uma geração de professores e
formadores de opinião que foram instruídos segundo uma só tradição teórica e
metodológica fortalecem a ideia de que a divergência é ignorância ou má-fé.
Tradições respeitáveis e eruditas são inteiramente desconhecidas pelos nossos
letrados, que só conhecem delas caricaturas tendenciosas feitas por seus
críticos.
As
insatisfações pessoais e outros aspectos psicológicos são outras fontes de
atitudes agressivas e intransigentes. Contribuem para a intransigência considerar
o diálogo uma competição na qual um ganha e o outro perde; ou como um jogo no
qual não se aceita o que o outro diz por temer que daí a três “jogadas” poderá
levar a uma conclusão contrária ao pensamento do intransigente. O voluntarismo
de quem condiciona a aceitação da realidade ao seu juízo de valor, a exemplo de
quem não pode aceitar a austeridade orçamentária, ainda que fique demonstrado a
necessidade dela, alegando que “não pode aceitar uma lógica desumana” tem o DNA
do extremismo.
Quem
precisa de vilões para odiar e vítimas para defender, como D. Quixote, que sonhava
ser heroi virtuoso; e quem precisa de uma teoria que ofereça um bode expiatório
para os seus fracassos; ou assume pose de intelectual com o radicalismo verbal
das explicações tão sofisticadas quanto erradas têm o germe do extremismo.
Fortaleza,
15/4/19.
Rui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário