Assombrações tecnológicas
Geraldo Duarte*
Aquele bancário aposentado queixa-se de perturbado por seres do além.
Mesmo recorrendo a tudo e a todos, inquietações o afligem. “Quanto mais rezo, mais assombrações aparecem!” – replica.
Diz-se desassombrado com coisas do mundo material. Não o afirma no tocante as do lado de lá da vida. Até se controlava quando as visagens eram conservadoras e complacentes, desaparecendo ante ao Sinal da Cruz. “Agora, acontece diferente, persistem” – garante.
Conta que no Dia de Finados, depois de homenagear os familiares sepultados no cemitério da sua Mossoró, quase morre de susto. Ao se retirar, passando no túmulo do cangaceiro Jararaca (José Leite de Santana, 1901 – 1927), morto na resistência da cidade a Lampião e tido milagreiro e cultuado, ouviu: “Tome bala, cabra da peste!”, seguindo som de dois tiros.
Passado o trauma, outro ocorreu. Mensagem no WhatsApp: “Oi, Fulano! Sou a finada Sicrana! Estou penitente devido a missas que não mandei rezar. Pague-as em meu nome.”. Disse ter feito a encomenda na Igreja e jogado o smartphone no rio.
Mas, nada estava tranquilo como pensava. No retorno de visita a um irmão, morador em distrito próximo, veio nova e indesejada surpresa.
Perto da noite. Ainda o lusco-fusco. Guiando seu carro em estrada carroçável, rumo à rodovia, sonido estridente e intermitente de buzina insistia.
Pelo retrovisor enxergou enorme motocicleta preta, pilotada por um gigante envolto em uma espécie de vestimenta negra.
Logo pensou tratar-se de assaltante e imprimiu velocidade. O motoqueiro fez igual. Nem a celeridade, nem a poeira impediam a ação do perseguidor.
Ao entrarem na BR-101, bem em frente ao cruzeiro de uma capela, o veículo estancou. A cruz foi à salvação. Um lobisomem, do porte de gorila, de rabo levantado, no lugar de um garupeiro, olhou para ele, para o madeiro, uivou semelhante a um lobo e sumiu no horizonte.
*Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.
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