O pedido do Pelé
Na noite de 19.11.1969, fazendo 49 anos na próxima segunda-feira, estávamos no Maracanã, com nosso radinho de pilha, para assistir um jogo histórico (Vasco 1 x 2 Santos), quando Pelé, deveria fazer, como fez, o seu milésimo gol. Por ter sido de pênalti e quase defendido pelo goleiro Andrada, não houve nenhuma frustração para a alegria dos 70 mil espectadores presentes no Estádio e também para os milhões de brasileiros espalhados pelo Brasil. O gramado foi invadido por repórteres, radialistas, jornalistas e torcedores de vários clubes, inclusive do Vasco. Uma multidão cercava o camisa 10 do Santos e milhares de vozes nas arquibancadas gritavam: Pelé, Pelé, Pelé... insistentemente. Muitas pessoas, pelo tamanho da emoção, foram às lágrimas. O atleta foi colocado nos ombros de um torcedor e suas primeiras palavras, ditas aos repórteres, foram bem mais bonitas do que o gol: Olhemos para as crianças pobres do Brasil”. Também choramos, e até hoje, ouvimos poucas frases tão corretas e profundas como aquela. Quase meio século depois do ocorrido no Maracanã, a solicitação de Pelé, coincidindo com a de 90 milhões de brasileiros (população de então), infelizmente não foi atendida de forma adequada. Atualmente, somos 210 milhões, situação bem mais complexa, porém devemos insistir. A crise existente na educação infantil continua, ou seja, ainda não estamos olhando, estrategicamente, para as nossas crianças. Sabemos que as prioridades são várias e difíceis nos diversos campos de atuação do poder público, mas esperamos que os “policy makers”, no momento, vejam a educação infantil como uma dessas prioridades. Com certeza, só poderemos pensar num Brasil desenvolvido se conseguirmos, em articulação com a iniciativa privada, implantar um sistema educacional eficiente baseado nas faixas etárias, no acesso, na equidade e na qualidade.
Gonzaga Mota
Professor aposentado da UFC
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