Desigualdades nacionais
A despeito do passado, as causas das desigualdades no Brasil estão, principalmente, nas limitações do processo de desenvolvimento, nas tentativas fracassadas de ajuste fiscal e nas consequências pouco vantajosas do processo de reestruturação econômica imposto pela globalização. Ao longo de 1980, o crescimento econômico brasileiro foi prejudicado em razão da crise gerada pela dívida externa, pelo progressivo déficit público e a consequente crise do Estado e da administração pública, além da inflação decorrente e das tentativas malsucedidas de estabilização monetária. Os resultados não poderiam ser outros que não o agravamento dos problemas sociais. Os efeitos também se fizeram sentir no nível elevado de desemprego em todo o País face à redução no ritmo de crescimento. Por sua vez, o processo de urbanização foi um dos mais velozes. Em 1950, a zona rural detinha 75% da população, atualmente cerca de 80% dos brasileiros vivem nos centros urbanos. Formaram-se então os chamados “cinturões de miséria” na periferia das cidades, acentuando a má distribuição de renda e prejudicando substancialmente a oferta de serviços sociais básicos (saúde, educação, segurança, etc). O Brasil apresenta uma péssima distribuição de renda: cerca de 1% dos mais ricos concentra 13% da renda nacional e, por outro lado, 50% dos mais pobres ficam também com 13%. Ademais, as desigualdades regionais persistem. O Nordeste, por exemplo, ao longo do tempo, continua com um terço da população brasileira e participa com apenas 13% a 14% do PIB. Faz-se necessária a realização de investimentos compatíveis com o peso demográfico, de natureza estrutural e não apenas circunstancial. O futuro Governo brasileiro deverá herdar, de outros, dificuldades na maioria das áreas de ação. Por fim, enquanto persistirem estas desigualdades, o Brasil não será um País justo.
Gonzaga Mota
Prof. aposentado da UFC
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