Nem bêbado, nem tão sóbrio
Geraldo Duarte*
Há vinte anos Fred era bancário e ojerizava a profissão. Sentia-se apenado naquele quadradinho de divisórias de fórmica e frente de vidro, onde o cenário diurnal mostrava a fila de pessoas indignadas, ante ao demorado atendimento.
Abstêmio e não fumante, por estranho que parecesse, somente suportava as fatigantes jornadas no banco, devido ao que chamava de terapia atípica grupal.
Invariavelmente, findo o expediente, rumava para o Bar e Restaurante Paladino, lugar em que jantava e conversava, com um ou mais alcoólicos, habituais e conhecidos. Alguns, já reconhecia amigos.
Adorava ouvir suas histórias, reclamos, opiniões, desilusões e, especialmente, as narrativas de inusitadas manias. O álcool transformava personalidades e potencializava invulgares vontades. Pobres e endividados tornavam-se afortunados. Mentiras afugentavam todas as verdades. Introvertidos davam-se a falastrões. Medrosos passavam a destemidos valentões. Tais aberrações cresciam no decorrer dos dias. Qual muro das lamentações, até problemas de alcova ouvia, junto a pedidos de análises e conselhos.
Naquela manhã, o destino aguardava-o. Plano de Demissão Voluntária estava ofertado aos empregados. De imediato, fez-se o primeiro dos aceitantes.
Recebida a indenização, ciente de estar o velho Palatino à venda, procurou o dono, apresentou proposta e adquiriu-o.
Um dos vezeiros, sabendo da transação, parabenizou-o, perguntou como se achava e escutou: “Como um bêbado sóbrio, chegando ao paraíso e feliz pelo trabalho muito desejado!”.
Criou o ambiente Canto dos Sonhos, destinado à turma dos fins de tarde, e Mundo Novo tornou-se nome do estabelecimento.
Trocados foram às denominações, em face da realidade dos fatos: o antigo banco possuir adquirente sucessor e o personagem Fred, hoje conhecido empresário fortalezense e nosso ledor, achar-se rindo dessas peripécias...
*Geraldo Duarte é administrador e dicionarista.
NÃO ESQUEÇA: VENDA DE BEBIDA NOS ESTÁDIOS, JAMAIS!
Nenhum comentário:
Postar um comentário