Paraíso do Padre Tertuliano
Geraldo Duarte*
Padre Tertuliano Damasceno completara setenta e cinco anos de sacerdócio e noventa e um de idade, quando sofreu desastrada queda, com forte pancada na cabeça. Angustiante deu-se a prostração.
O compadecer dos paroquianos mostrou-se deveras solidário, vez que o clérigo, além de devotado a Igreja e aos fiéis, era natural da cidade.
Desde o traumatismo, fez-se acentuado um processo de senilidade. Para alguns, decorria há tempos. Para outros, causa maior deveu-se ao tombo.
O bispo, cientificado e acompanhando a enfermidade, determinou o recolhimento do servo ao Abrigo Bom Pastor, onde moraria e receberia toda assistência médico-social.
No local, antigo convento da época colonial, existiam edificações várias, jardins floridos, arvores frutíferas, córrego de limpas águas e mais belezas naturais.
Tertuliano, deslumbrado, creu haver falecido e encontrar-se no céu. Enxergou nas enfermeiras e freiras, com seus brancos trajes, anjos divinos. Nos médicos, santos obrando milagres. Ao ver o porteiro fechando o grandioso portão, acreditou que pela longevidade, prateada longa barba e a penca de chaves no cinto, ser São Pedro.
Dirigiu-se a ele, indagando onde acharia o Salvador, pois desejava apresentar-se.
Confuso, o homem da portaria chamou o jardineiro e pediu-lhe que levasse o reverendo ao chefe, no que foi atendido.
Logo chegou ao gabinete do diretor, o pároco, emocionado, ajoelhou-se e disse: “Oh! Mestre! Muito esperei por este momento de glória. Enfim, conquistei o paraíso. Estou salvo e desejo servi-lo da melhor forma!”.
Devido à inexistência, até aquela data, de interno possuidor de tal comportamento, não entendeu estar sendo tratado como o Messias. Simplesmente levantou o sacerdote, abraçou-o e falou:
“E eu tenho sempre esperado alguém como você! Segundo as informações de seu prontuário, vai ajudar-me a cuidar dos demais moradores.”.
*Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.
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