LUZIA E VITAL BRAZIL VILIPENDIADOS E
ULTRAJADOS
João Amílcar Salgado
Criei um grande museu e assim tenho
autoridade para falar sobre o criminoso
incêndio do Museu Nacional. Em 1979, ao lado de meus filhos adolescentes,
Carlos e João, percorri aquele palácio e jamais imaginaria vê-lo reduzido a
cinzas. Ao ver as chamas devorando tudo, pensei que o Michel Temer, que teve
várias fortes razões para renunciar, desta vez renunciaria. E que os ministros da Cultura, da Educação e
da Tecnologia, bem como o reitor da UFRJ e o diretor da casa, seriam presos
incomunicáveis, antes de qualquer outra providência. Nada disso aconteceu e
todos aparecem na tevê, com a cara mais limpa, para explicar o inexplicável - e
prometer o que?
O fóssil da Luzia mostra bem a malandra
irresponsabilidade dos que deveriam ser guardiães de nossos tesouros públicos.
O fóssil foi descoberto em Minas, em 1975, e depois datado e reconstituído, em
1999. Foi então que nós, do Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais, entramos
em contado com pesquisadores amigos, no intuito de trazê-lo para o Centro, onde
faria parte do acervo referente aos médicos Lund, Burmeister e Basílio
Furtado. A resposta que nos deram foi
que a Luzia sem dúvida era não só mineira, mas a primeira mineira - contudo,
para resguardo de uma peça de tão alta preciosidade, seria difícil encontrar em
Minas a segurança como a oferecida pelo Museu Nacional.
Essa mesma malandra
irresponsabilidade encontra-se por todos os museus do Brasil, misturando mau-caráter,
carreirismo, oportunismo, impunidade, cafajestagem e incompetência. Os museus
de Londres, Paris, Nova Iorque, Berlim, México, Vaticano e outros parecem estar
higienizados de tal fauna. Tudo o que
aconteceu, no dia 2-9-2018, no Museu Nacional, foi anunciado em outros
incêndios de museus brasileiros, principalmente o ocorrido em 15-5-2010, no
Instituto Butantã. Nessa ocasião, usei pesadas palavras contra os que se deviam
responsabilizar pelo instituto, mostrando que aquilo era apenas a culminância
dos desapreços de toda a ordem, sofridos por seu criador o sulmineiro Vital
Brasil.
Luzia e Vital Brasil
são vítimas mineiras do desleixo, da incúria, do desmazelo, do descaso, da
omissão, da negligência e da desídia brasileira
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