Irreverente Tio Pio
Geraldo Duarte*
Irreverente, boêmio, poeta satírico, chistoso, tropeiro, delegado, merceeiro, tabaquista, bebedor de tragos e causoeiro. Assim viveu Pio Carvalho Brito, tio-avô do coronel da Polícia Militar, professor da UECE e escritor Ronald Brito.
Em livreto dedicado ao ancestral, narra suas peripécias de viagens por nossa terra e paragens outras.
Sendo homem da lei, nunca prendeu ninguém. Na bodega sempre lotada, não de fregueses, mas de desocupados, citava feitos.
Perto de quem come e longe de quem labora, parecia-lhe lema. Carvalhinho, seu genitor, admoestou-o no sentido de trabalhar, recebendo resposta que se tornou realidade: “Deixe estar, meu pai! Eu vou-me casar para não precisar trabalhar.”. Casou-se com moça rica e prendada.
Abriu farmácia em Bodocó, onde além de vender, preparava fórmulas.
Um senhor se queixou de sentir um “bolo no estambo”. Pio desconfiou ser gases e preparou um “xarope espumante”: limonada e bicarbonato de sódio. Entregou a manipulação, usando a denominação popular de flato e garantiu: “que ele sai ou tora pelo meio!”.
Vindo do sítio, descavalgou num boteco da vila, objetivando “queimar o dente” e deu-se a contar causos. Passou da medida e, na hora de montar, risada geral. “Meu tio, está montando ao contrário!” – disse alguém e logo ouviu: “Por isso eu estava achando este diabo enfreado!”.
Em andanças no Sudeste, assistiu aos desentendimentos políticos entre estados. Ao retornar, perguntado pela situação lá, respostou: “Uma ‘greve’ de santo danada. São Paulo se revoltou contra Santa Catarina e para resolver a ‘coisa’ foi preciso à intervenção do Espírito Santo!”.
*Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.
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