Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

REVOLTA DE FILIPE DOS SANTOS - NEUZEMAR GOMES DE MORAES


REVOLTA DE FILIPE DOS SANTOS

                   A revolta de Filipe dos Santos ou Revolta de Vila Rica, movimento nativista que se registrou em 1720, na então Real Capitania das Minas de Ouro e dos Campos Gerais dos Guatacases, na Colônia do Brasil, foi um dos processos da Inconfidência Mineira, motivada pelo aumento da exploração colonial.
                   Em 1719, a Coroa Portuguesa criou as casas de fundição e em 1720, decretou a proibição da circulação de ouro em pó nas regiões da mineração. Com essa providência, o minério só poderia ser negociado, depois de fundido, selado e descontado um quinto, ou seja, vinte por cento, a título de imposto. A medida teve por objetivo combater o contrabando e melhorar a arrecadação de impostos. No entanto, essa decisão causou inúmeros problemas à população que utilizava o ouro em pó como moeda de circulação. Com ele, compravam tudo quanto necessitavam.
                   A Coroa Portuguesa sabia que o contrabando do ouro era grande e, enquanto a produção crescia, os impostos diminuíam. Com a criação de várias casas de fundição, o selamento, o desconto do imposto do ouro fundido e a proibição da circulação do ouro em pó, o contrabando foi total.
                   Com esse arrocho fiscal, a insatisfação foi generalizada. Manuel Mosqueira Rosa, seus filhos e Pasqual da Silva Guimarães, os homens mais ricos da região naquela época, aos quais se juntou o pobre e humilde Filipe dos Santos, notável orador que, com o seu verbo potente, sua força argumentativa, insuflou o povo e combinaram uma ação violenta, objetivando intimidar o Ouvidor Marinho Vieira e, através dele, acreditavam que conseguiriam demover o Governador dos seus intentos.
                   No dia 20 de junho 1720, os revoltosos dirigiram-se ao prédio da Câmara, ocasião em que Filipe dos Santos assumiu o comando dos acontecimentos, falando para uma multidão de cerca de duas mil pessoas. Ali mesmo, com redação de José Peixoto da Silva, elaboraram um documento exigindo a redução de vários tributos, diminuição de custas processuais, abolição dos monopólios comerciais do gado, fumo, aguardente, sal e o fim das casas de fundição. Afirmaram que não deporiam as armas até serem atendidos.
                   Por sugestão de Filipe dos Santos, José Peixoto da Silva levou o documento a Ribeirão do Carmo, primeiro nome da cidade de Mariana, onde ali se encontrava o Governador Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos, Conde de Assumar.
                   Experiente e hábil, além de temer as consequências da revolta geral, o Conde de Assumar prometeu atender a todas as reivindicações. Queria apenas ganhar tempo até que lhe fosse enviado reforço militar para sufocar os revoltosos.
                   O Conde de Assumar organizou as suas tropas, lideradas pelo Sargento-mor Manuel Gomes da Silva e partiu para efetuar a prisão dos líderes do movimento: Pasqual da Silva, Manuel Mosqueira da Rosa, Sebastião da Veiga Cabral e alguns frades. Filipe dos Santos pregava a revolta, diante das portas da igreja de Cachoeira, quando foi aprisionado.
                   O Conde de Assumar demonstrou ser um homem bastante violento, mandando queimar as casas dos revoltosos, tendo o fogo se alastrado e destruído ruas inteiras do arraial que hoje se denomina de “Morro da Queimada”, onde ficava a casa de Pasqual da Silva.
                   Filipe dos Santos foi declarado o principal líder do movimento, tendo sido julgado sumariamente, condenado, executado na forca e depois esquartejado, no dia 15 de julho de 1720. Antes de ser enforcado, pronunciou as suas últimas palavras: “Morro sem me arrepender, porque a canalha do rei há de ser esmagada pelo patriotismo dos brasileiros”.
                   A riqueza dos minérios transformou a colônia, criou milionários, despertou os interesses da metrópole, fez surgir uma série de legislações, dinamizou o comércio, trouxe a instalação de várias indústrias, aumentou a população, eclodiu revoluções e plantou as raízes da independência.
                   Em 1720, Ouro Preto, com os seus cento e vinte mil habitantes, tornou-se a maior cidade das Américas. No mesmo ano, Nova Iorque tinha cem mil habitantes e o Rio de Janeiro, oitenta mil, porque o povo migra em busca da riqueza.

                   NEUZEMAR GOMES DE MORAES

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