REVOLTA DE FILIPE DOS SANTOS
A
revolta de Filipe dos Santos ou Revolta de Vila Rica, movimento nativista que
se registrou em 1720, na então Real Capitania das Minas de Ouro e dos Campos
Gerais dos Guatacases, na Colônia do Brasil, foi um dos processos da
Inconfidência Mineira, motivada pelo aumento da exploração colonial.
Em
1719, a Coroa Portuguesa criou as casas de fundição e em 1720, decretou a
proibição da circulação de ouro em pó nas regiões da mineração. Com essa
providência, o minério só poderia ser negociado, depois de fundido, selado e
descontado um quinto, ou seja, vinte por cento, a título de imposto. A medida
teve por objetivo combater o contrabando e melhorar a arrecadação de impostos.
No entanto, essa decisão causou inúmeros problemas à população que utilizava o
ouro em pó como moeda de circulação. Com ele, compravam tudo quanto
necessitavam.
A
Coroa Portuguesa sabia que o contrabando do ouro era grande e, enquanto a
produção crescia, os impostos diminuíam. Com a criação de várias casas de
fundição, o selamento, o desconto do imposto do ouro fundido e a proibição da
circulação do ouro em pó, o contrabando foi total.
Com
esse arrocho fiscal, a insatisfação foi generalizada. Manuel Mosqueira Rosa,
seus filhos e Pasqual da Silva Guimarães, os homens mais ricos da região
naquela época, aos quais se juntou o pobre e humilde Filipe dos Santos, notável
orador que, com o seu verbo potente, sua força argumentativa, insuflou o povo e
combinaram uma ação violenta, objetivando intimidar o Ouvidor Marinho Vieira e,
através dele, acreditavam que conseguiriam demover o Governador dos seus
intentos.
No
dia 20 de junho 1720, os revoltosos dirigiram-se ao prédio da Câmara, ocasião
em que Filipe dos Santos assumiu o comando dos acontecimentos, falando para uma
multidão de cerca de duas mil pessoas. Ali mesmo, com redação de José Peixoto
da Silva, elaboraram um documento exigindo a redução de vários tributos,
diminuição de custas processuais, abolição dos monopólios comerciais do gado,
fumo, aguardente, sal e o fim das casas de fundição. Afirmaram que não deporiam
as armas até serem atendidos.
Por
sugestão de Filipe dos Santos, José Peixoto da Silva levou o documento a
Ribeirão do Carmo, primeiro nome da cidade de Mariana, onde ali se encontrava o
Governador Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos, Conde de Assumar.
Experiente
e hábil, além de temer as consequências da revolta geral, o Conde de Assumar
prometeu atender a todas as reivindicações. Queria apenas ganhar tempo até que
lhe fosse enviado reforço militar para sufocar os revoltosos.
O
Conde de Assumar organizou as suas tropas, lideradas pelo Sargento-mor Manuel
Gomes da Silva e partiu para efetuar a prisão dos líderes do movimento: Pasqual
da Silva, Manuel Mosqueira da Rosa, Sebastião da Veiga Cabral e alguns frades.
Filipe dos Santos pregava a revolta, diante das portas da igreja de Cachoeira,
quando foi aprisionado.
O
Conde de Assumar demonstrou ser um homem bastante violento, mandando queimar as
casas dos revoltosos, tendo o fogo se alastrado e destruído ruas inteiras do
arraial que hoje se denomina de “Morro da Queimada”, onde ficava a casa de
Pasqual da Silva.
Filipe
dos Santos foi declarado o principal líder do movimento, tendo sido julgado
sumariamente, condenado, executado na forca e depois esquartejado, no dia 15 de
julho de 1720. Antes de ser enforcado, pronunciou as suas últimas palavras:
“Morro sem me arrepender, porque a canalha do rei há de ser esmagada pelo
patriotismo dos brasileiros”.
A
riqueza dos minérios transformou a colônia, criou milionários, despertou os
interesses da metrópole, fez surgir uma série de legislações, dinamizou o
comércio, trouxe a instalação de várias indústrias, aumentou a população,
eclodiu revoluções e plantou as raízes da independência.
Em 1720, Ouro Preto, com os
seus cento e vinte mil habitantes, tornou-se a maior cidade das Américas. No
mesmo ano, Nova Iorque tinha cem mil habitantes e o Rio de Janeiro, oitenta
mil, porque o povo migra em busca da riqueza.
NEUZEMAR GOMES DE MORAES
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