Antecessor de Seu Lunga
Geraldo Duarte*
Ganhe fama e deite-se na cama, prenuncia o adágio. E neste causo, sem dúvida, confirmado.
Segundo o escritor José Figueiredo de Brito Filho ou Zédebrito, antes do famoso Seu Lunga, personagem cratense irreverente e cabeça-dura, existiu um conterrâneo com semelhante comportamento. Tratado como Seu Ozael, exercia a mercancia e sempre buscava contradizer os interlocutores.
Dado a deboches e grosserias, de repente, apresentava respostas atrevidas para perguntas que julgasse descabidas ou inoportunas. Em tudo o diziam do contra. Birrento a mais não poder.
Invariavelmente adotava atitude contrária ao desejo de alguém, parecendo isso tratar-se de provocação.
O Circo Nerino estreava exibição no Crato. Dois adolescentes conhecidos de Ozael desejavam assistir ao espetáculo, entretanto, não possuíam grana. Combinaram ir até a mercearia e pedir um empréstimo para os ingressos.
Por estratégia, enquanto um pedia, o outro, detrás balançava o indicador negativamente. Daí, a decisão do bodegueiro: “Seu moleque! Sei que não vai me pagar, mas como aquele sujeito, ali, insinua que não dê, tá aqui a bufunfa!”.
Houve circulação de moedas falsas no Cariri. Um freguês recebeu de troco uma e indagou em linguajar usual: “Esse dinheiro corre, Seu Ozael?”. O merceeiro pegou a moeda, jogou-a no chão, fazendo-a rolar em direção à porta e indagou: “Está vendo? Corre ou não corre?”.
O filho Zé estudava em Fortaleza e era querido das mocinhas que, nas férias, indagavam: “É verdade que Zé chegou?”.
O vendeiro, apoquentado, escreveu num papel “Zé chegou”. Chamou um garoto e pediu-lhe que lesse, como teste, elevando ao máximo a voz. Aprovado, solicitou-lhe gritar por todas as ruas e que, ao final, lhe pagaria.
Realizada a tarefa, o menino foi pago e ia saindo, quando resolveu indagar: “Zé chegou mesmo?”. E ouviu: “Você é besta, fio duma égua! Chegou, sim!”.
*Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.
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