PROMESSAS
AMEAÇADORAS
Promessas
demagógicas podem ser cumpridas. Na véspera das eleições municipais de 2012, o
Brasil ouviu a notícia da redução das tarifas de eletricidade. Era uma
declaração demagógica. Muitos não acreditaram. Afinal, quebraria o setor
elétrico e inviabilizaria os indispensáveis investimentos na importantíssima
área. Mas a promessa foi cumprida. As empresas do setor tornaram-se inviáveis.
O erário, leia-se, o contribuinte, supostamente beneficiado, ainda hoje está
pagando a conta. Políticas de preço tipicamente eleitoreiras, com resultados
devastadores, não são novidade. A Petrobrás sofreu muito mais vendendo
combustível com prejuízo, para esconder a inflação por algum tempo, do que com
a roubalheira do Petrolão.
Agora
testemunhamos novamente promessas ameaçadoras. O gás de cozinha vendido por
pouco mais da metade do preço atual é a mais chocante delas. O mais grave é que
o dito poderá ser cumprido, afinal preços artificiais já foram praticados
exatamente na área de energia, tanto no campo dos combustíveis fósseis como na
área da eletricidade. A Petrobrás, que está se recuperando a duras penas,
poderá ser novamente atingida por mais uma manobra eleitoreira. Também já
tivemos promessa de governo de bonança, com crescimento econômico, sem
necessidade de ajuste. Isso se deu em fins de 2014.
Déficit
e dívida não eram problema. Banqueiros não seriam sevados com o pagamento de
juros e o ajuste fiscal era desnecessário. No dia seguinte a autora da promessa
chamou um economista monetarista para fazer o “famigerado” ajuste. A presidente
eleita prometendo bonança queria fazer crer que o sacrifício era coisa do
ministro e dos partidos da base aliada, ela e o seu partido não tinha
responsabilidade pelas práticas da economia ortodoxa. A tal base aliada e o
ministro não aceitaram ser bois de piranhas. A “nova matriz econômica” dizia
que a solução era gastar, então, logicamente, colaborar com o governo e a
retomada do crescimento econômico seria fazer “pauta bomba”. Deu no que deu.
Promessas
ameaçadoras agora se repetem. Dizem que gênio é quem aprende com os erros dos
outros; inteligente quem aprende com os próprios erros; quem não aprende nem
com os próprios erros é burro. Parece que não aprendemos nem com os nossos
próprios erros. Milhares morrem no trânsito e em acidentes de trabalho. Mas não
aprendemos a trágica lição de prudência: continuamos sendo imprudentes nas ruas
como nas estradas e negligentes no concernente aos procedimentos de segurança
do trabalho.
Karl
Heinrich Marx (1818 – 1883) disse, referindo-se ao golpe Bonaparte III (1808 –
1873), que a história só se repete como farsa ou como tragédia. Nem sempre é
assim. Temos agora a repetição de promessas que se pretendem bondosas, mas
cujos resultados serão devastadores, se concretizadas. Já sabemos do que seus
autores são capazes de fazer para ganhar eleição. Mas não sabemos se a
repetição é uma farsa ou será uma tragédia.
Fortaleza,
24 de outubro de 2018.
Rui
Martinho Rodrigues.
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