UMA
PEDRA NO CAMINHO
No
meio do caminho havia uma pedra. Lembremos de Carlos Drummond de Andrade.
Estamos testemunhando uma campanha eleitoral na qual os competidores se agridem
e fazem promessas oferecendo vantagens e facilidades. Parecem ignorar as pedras
do caminho. Não temos um Winston Churchill (1874 – 1965), admitindo francamente
que só teremos sangue, suor e lágrimas. O estadista britânico vivia o início de
uma guerra que seria longa e cheia de sacrifícios. Não estamos em guerra, mas
temos uma profunda crise fiscal e uma demanda insatisfeita por pesados
investimentos nas áreas de infraestrutura de transportes; saneamento; serviços
de saúde; educação; segurança pública e serviços de toda espécie; sistema
prisional; geração e transporte de energia; tudo que se pensar.
É
pouco? Temos grandes desafios no campo político, com o Congresso dividido em
trinta partidos, na próxima legislatura; temos uma guerra verbal dividindo
profundamente o país. Corporações poderosas insistem em defender privilégios
incompatíveis com os sacrifícios inevitáveis decorrentes do desequilíbrio das
contas públicas.
A Espanha sepultou
centenas de milhares de mortos em uma guerra civil, mas o Pacto de Moncloa (25
de outubro de 1977) fechou trincheiras, sarou feridas e abriu caminho para a
construção do futuro. Não temos nada semelhante no horizonte. A situação
internacional parece rumar para a instabilidade, com uma crise na Itália mais
difícil de resolver que a da Grécia e uma guerra comercial entre as maiores
economias do mundo, entre outras dificuldades. Não estamos isolados do mundo.
Não vivemos uma guerra de fato, mas o desequilíbrio fiscal e as demandas insatisfeitas
são desafios ciclópicos. Remédios amargos inevitáveis precisam de um
entendimento semelhante ao pacto de Moncloa. Reformas da previdência,
reestruturação tributária e reforma política não se tornarão realidade sem um
mínimo de entendimento.
A campanha, porém, está
semeando antagonismos, pedras no meio do caminho. “Nunca me esquecerei que no
meio do caminho/ Tinha uma pedra”, disse o Poeta. Temos pedras no caminho.
Obstáculos devem ser contornados ou removidos, não agravados.
Fortaleza, 24 de
outubro de 2018.
Rui Martinho Rodrigues.
Publicado
no jornal O Povo e no blog da ACLJ.
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