Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

terça-feira, 16 de abril de 2013

O ALEMÃO


Pedro Henrique Saraiva Leão
pedrohenrique.leao@unimedfortaleza.com.br
Médico e presidente da Academia Cearense de Letras

Metonímia é uma figura de retórica, ou da oratória (arte da palavra, da boa argumentação) e significa o uso genérico de um termo para indicar outra coisa em particular. Por exemplo: “aurélio”, por “dicionário”; “ouro”, quando se quer dizer “dinheiro”.
Aqui, o alemão significa a doença de Alzheimer, descoberta por esse psiquiatra alemão, Aloysius, ou “Alois” Alzheimer (1864–1915), em 1907. Embora não seja da nossa paróquia profissional, mas por estar na moda, aqui vão algumas dicas da leitura esparsa de textos médicos recentes. 

É uma doença degenerativa oriunda do próprio envelhecimento do sistema nervoso central, e o principal tipo de demência orgânica. Surge a partir dos 60 anos, sendo bem mais comum do que a demência vascular cerebral, podendo ocorrer simultaneamente. Esta, a variedade vascular, senil, em cerca de 35% de idosos, mais frequente em homens, é a conhecida caduquice (caduquez ou caducidade). É quando o individuo está broco, gagá, dizem alguns. Contudo não é de bom tom, não pega bem dizer-se “papai está broco, lelé da cuca”, dando mais Ibope afirmar-se, abrindo-se toda a boca que “papai está com Alzheimer”, ou com o alemão.

Continua sem cura e sem reconhecimento clínico cientificamente comprovado. O diagnostico só se faz por necrópsia (exame cadavérico), a qual comprova e explica os sintomas ao revelar atrofia cerebral generalizada. Nos EUA, afeta atualmente mais de cinco milhões de pessoas, e – citando alguns especialista – ali os indivíduos com 65 anos têm 10% de risco de contraí-la. 

De inicio dá-lhes “um branco” (olha aí o preconceito racial! Por que não dizemos “um preto”?), ou perdas súbitas da memória, principalmente o esquecimento de fatos recentes ou de pessoas conhecidas. A esta involução cognitiva, dificuldade em reconhecer objetos ou rostos, soma-se a impossibilidade de realizar atos motores corriqueiros, simples, sem ajuda de outrem. 

Seu portador, então já mentalmente confuso, e sem coordenação dos movimentos, passa a depender por completo dos que dele cuidam. Nas fases avançadas, terminais, por deficiência muscular e mobilidade reduzida, os pacientes quedam-se no leito até a morte, comumente por pneumonia, ou outros processos inflamatórios pelo decúbito prolongado.

É gerada por genes e acredita-se ser causada por acúmulo no cérebro de placas de proteína, beta-amilókide, juntamente com células destruídas e neurônios mortos. O tratamento ainda é frustrante. Até uma promissora vacina foi testada em 2002, contudo logo abandonada pois produzia infecção cerebral e medular. Em agosto de 2009 uma potente droga paradoxalmente agravou os sintomas da moléstia.
Nos indivíduos propensos, pelos naturais riscos, serão bastante salutares exercícios moderados de concentração, e maior sociabilização. Melhor fiquemos aqui, pois dizia Machado de Assis, em Dom Casmurro, “é feio dar pernas longuíssimas a ideias brevíssimas”. Zé finí. 

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