Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

sexta-feira, 12 de abril de 2013

O PAPA E O RABINO


Karol Józef Wojtyła, o Papa João Paulo II,nasceu em Wadowice, uma pequena localidade ao sul da Polônia, a 50 quilômetros de Cracóvia; o mais novo dos três filhos de Karol Wojtyła, um polonês e de Emilia Kaczorowska, que é descrita como tendo ascendência lituana ou possivelmente, ucraniana.


Emília morreu quando Karol tinha apenas 8 anos de idade. Sua irmã mais velha, Olga, já tinha morrido antes de seu nascimento, e ele ficou muito próximo de seu irmão Edmund, que era 14 anos mais velho e era chamado de Mundek, mas o seu trabalho como médico o levou à morte por escarlatina, o que deixou Karol muito abalado.



Ainda garoto, Karol demonstrou interesse pelos esportes, geralmente jogando futebol na posição de goleiro. Durante a adolescência, travou contato com a grande comunidade judaica de Wadowice e os jogos de futebol eram disputados entre os times de judeus e católicos, com Wojtyła muitas vezes jogando ao lado dos judeus.















Em 1939, as forças de ocupação da Alemanha Nazista fecharam a Universidade Jaguelônica após a invasão da Polônia no início da Segunda Guerra Mundial. Todos os homens capazes foram obrigados a trabalhar e assim, de 1940 até 1944, Karol trabalhou em empregos tão diversos como mensageiro para um restaurante, operário numa mina de calcário e para a indústria química Solvay, tudo isso para evitar ser deportado para a Alemanha. 


Seu pai, um suboficial no Exército da Polônia, morreu de ataque cardíaco em 1941, deixando Karol como o último sobrevivente de seu grupo familiar imediato.


"Eu não estive presente na morte de minha mãe nem na do meu irmão e nem na do meu pai".
 Disse, refletindo sobre esta época de sua vida, quase quarenta anos depois.
"Aos vinte, eu já tinha perdido todos os que amava".

Após a morte de seu pai, ele começou a considerar seriamente a ideia do sacerdócio e em outubro de 1942, bateu às portas do palácio arcebispal de Cracóvia e pediu para estudar. 

Logo em seguida  começou a ter aulas no seminário clandestino comandado pelo arcebispo de Cracóvia.



PARAMOS POR AQUI, APENAS TEMPORARIAMENTE, PARA CONHECERMOS O OUTRO PERSONAGEM.

Israel Meir Lau, Lulek para os mais íntimos, nasceu em 1 de junho de 1937, na cidade polonesa de Piotrków Trybunalski. 

Mas com a invasão da Alemanha Nazista, toda sua família foi arrancada de sua cidade natal de Piotrkow, onde seu pai, o Rabino Moshe Chaim Lau era o Rabino Chefe, para ser brutalmente assassinada. Seu pai era a 37ª geração em uma linha de ascendência direta e ininterrupta de rabinos, mas  morreu heroicamente em Treblinka. Lúlek foi enviado para Buchenwald até ser libertado em 1945.  













Durante o tempo em que esteve no campo, Lúlek creditou sua proteção a Feodor Mikhajlichenko, um prisioneiro adolescente. 


Pois bem, antes de serem presos, a mãe de Lúlek pediu que uma amiga católica cuidasse dele, e caso ela morresse, o que acabou acontecendo, e ele sobrevivesse,ela deveria enviá-lo para junto dos familiares que viviam no Mandato da Palestina, e onde ele teria um futuro junto dos seus e das suas raízes.







No dia 15 de julho de 1945, Lúlek embarcava no navio RMS Maratoa no colo de Elazar Schiff para desembarcar na Terra Prometida; Israel; nessa época, ainda sob o mandato inglês.














Lúlek frequentou a renomada Yeshiva Kol Torah, coordenada pelo sábio Rabino Shlomo Zalman Auerbach, além das igualmente consagradas Yeshivot de Ponevezh e Knesses Chizkiyahu. 



Depois recebeu ordenação rabínica no ano de 1961, e ao casar-se com a filha do então Rabino-Chefe da cidade de Tel Aviv, assumiu o posto de Rabino-Chefe de Netahnya, desenvolvendo já nesta época excelente reputação como notável orador. 

Ao percorrer sua fascinante trajetória, o Rabino Israel Meir Lau veio a tornar-se uma das mais importantes figures rabínicas dos últimos tempos, orgulhosamente dando continuidade à sua ascendência, a 38ª geração ininterrupta de rabinos, que escapou do extermínio.


AGORA A HISTÓRIA VAI SE JUNTAR


Numa sala de audiências do Vaticano, Karol Wojtyla recebe a visita de uma das mais altas autoridades religiosas do Judaísmo, Israel Meir Lau, o Grão Rabino do Estado de Israel.
A entrevista dá-se num ambiente muito cordial e o rabino dá origem ao seguinte relato:

_ Há muito tempo atrás, numa aldeia no norte da Europa, terminada a Segunda Guerra Mundial, uma mulher católica dirigiu-se ao pároco da sua aldeia para lhe fazer uma consulta. 
Ela e seu marido tinham ao seu cuidado, desde o fim da guerra, um menino judeu, cuja mãe, uma amiga da família, pedira que ela encaminhasse o menino, caso ele sobrevivesse, para ter um futuro na Palestina, e esperava desesperadamente que ela fizesse isso pelo seu filho.
A mulher encontrava-se diante de um dilema e pedia ao sacerdote católico um conselho. Desejava tornar realidade o sonho de sua amiga judia, mas, ao mesmo tempo, ansiava mantê-lo consigo e batizá-lo.
O pároco deu-lhe uma resposta rápida e segura:
- O seu dever é respeitar a vontade dos pais do menino.

 O menino judeu foi enviado, então, para o Mandato Palestina, que três anos depois tornou-se o recém-fundado Estado de Israel, onde ele se criou e foi educado dentro dos princípios do judaísmo.




O fato pareceu muito interessante a Karol Wojtyla, mas passou a ser realmente comovedor quando o Grande Rabino concluiu:

_ Sabe quem era esse pároco?

_ Não. Respondeu o Papa.




_ Era você.

Surpreso, Karol perguntou ao Grão Rabino:
_ E você sabe onde está este menino?







No que Lúlek respondeu:

_ Este menino sou eu.



O Rabino Israel Meir Lau desempenha um papel fundamental dentro da sociedade israelense, ao aproximar as diferentes correntes ortodoxas e aparar as arestas entre o Judaísmo Ultra-Ortodoxo e a Ortodoxia Sionista e suas correntes de pensamento. 


Ele é uma das poucas, se não a única figura rabínica na história que conseguiu conquistar o respeito e a admiração em diversas camadas e setores da sociedade israelense. 

Em maio de 2005, Lúlek recebeu o “Prêmio Israel” do governo, efetivamente por sua habilidade única de minimizar os conflitos ideológicos e promover o entendimento e o diálogo entre irmãos.


Com grande projeção internacional, o Rabino Meir Lau obteve reconhecimento internacional. Tendo atuado também em negociações de paz com outros povos, encontrou-se com lideranças religiosas, e é reverenciado por judeus e não-judeus no mundo inteiro. 

O livro de sua autoria, uma auto-biografia intitulada“Lúlek” (seu apelido nos tempos da infância na Europa) transformou-se um best-seller, tornando pública e acessível, em uma linguagem íntima, pessoal e extremamente realista a fascinante história de vida desta figura carismática e impressionante.

· As relações entre o catolicismo e o judaísmo melhoraram durante o pontificado de João Paulo II. 

· Ele falou com frequência sobre a relação da Igreja com os judeus.

·  Em 1979, João Paulo II se tornou o primeiro papa a visitar o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, onde muitos de seus compatriotas (majoritariamente judeus poloneses) haviam perecido durante a ocupação alemã da Polônia na Segunda Guerra Mundial.

·  Em 1998, o papa publicou "Nós Lembramos: Uma Reflexão sobre a Shoah", que delineou seu pensamento sobre o Holocausto.
(http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/chrstuni/documents/rc_pc_chrstuni_doc_16031998_shoah_po.html)

· Ele se tornou o primeiro papa a fazer uma visita papal oficial a uma sinagoga, quando visitou a Grande Sinagoga de Roma em 13 de abril de 1986.

· Em 1994, João Paulo II estabeleceu relações diplomáticas formais entre a Santa Sé e o Estado de Israel, reconhecendo sua importância central na vida e fé judaicas.

· Em honra a este evento, o papa João Paulo II patrocinou o "Concerto Papal para Comemoração do Holocausto". Este concerto, que foi concebido e conduzido pelo maestro norte-americano Gilbert Levine, contou com a presença de Elio Toaff, o Rabino principal de Roma, do presidente da Itália e de sobreviventes do Holocausto vindos do mundo inteiro.

· Em março de 2000, João Paulo II visitou o memorial de Yad Vashem, um monumento nacional israelense em honra às vítimas e heróis do Holocausto, e depois entrou para a história ao tocar um dos mais sagrados objetos de devoção do Judaísmo, o Muro das Lamentações, seguindo o costume de colocar uma carta entre as frestas de seus tijolos (na qual ele pediu perdão pelas perseguições contra os judeus). Em parte do seu discurso, ele disse: "Eu asseguro o povo judeu que a Igreja Católica... está profundamente entristecida pelo ódio, atos de perseguição e mostras de antissemitismo dirigidas contra os judeus pelos cristãos, à qualquer tempo, em qualquer lugar" e acrescentou que "não há palavras fortes o suficiente para deplorar a terrível tragédia do Holocausto".

· O ministro israelense, rabino Michael Melchior, que foi o anfitrião do papa durante a visita, disse que estava "muito comovido" pelo gesto do papa:
“Foi além da história, além da memória”.


— Rabino Michael Melchior, em 26 de março de 2000, durante a visita de João Paulo II a Israel.


“Nós estamos profundamente entristecidos pelo comportamento dos que, no curso da história, provocaram sofrimento às suas crianças e, ao pedir perdão, desejamos nos comprometer com uma irmandade genuína com o povo da Aliança”.


— Papa João Paulo II, em 12 de março de 2000, numa nota deixada no Muro das Lamentações.

·         Em outubro de 2003, Liga Anti-Difamação (ADL, da sigla em inglês) emitiu um comunicado congratulando João Paulo II por seu vigésimo-quinto ano de papado.

·  Imediatamente após a morte de João Paulo II, a ADL emitiu um comunicado afirmando que o papa Karol Wojtyla havia revolucionado as relações entre católicos e judeus e que "mais mudanças para melhor haviam ocorrido em seus vinte e sete anos de papado do que nos quase 2000 anos anteriores".

· Em outro comunicado, emitido pelo diretor do conselho para assuntos australianos, israelenses e judaicos de Israel, o Dr. Colin Rubinstein, afirmou que "O papa será lembrado por sua inspiradora lembrança espiritual em prol da causa da liberdade e da humanidade. Ele conseguiu muito mais em termos de transformar as relações tanto com o povo judeu quanto com o Estado de Israel do que qualquer outra figura na história da Igreja Católica".

“Com o judaísmo, portanto, nós temos uma relação com a qual não temos com qualquer outra religião. Vocês são nossos queridos irmãos e, de certa forma, pode-se dizer que vocês são os nossos irmãos mais velhos”


— papa João Paulo II, em 13 de abril de 1986.

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