Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Federação capenga


                                                                      Gilson Barbosa (*)

            Ao tempo em que escrevo, segue a batalha, no Congresso Nacional e até no Supremo Tribunal Federal, pela divisão dos direitos de exploração (ou royalties) do petróleo na camada do pré-sal, entre os Estados brasileiros. Enquanto os poucos produtores, encabeçados por Rio de Janeiro e Espírito Santo, desejam beneficiar-se individualmente daqueles recursos, os demais membros da federação lutam pela divisão igualitária do dinheiro advindo da extração do petróleo nas águas territoriais do país. Independentemente do desfecho que venha a tomar a disputa, é num momento como este que devemos questionar que tipo de federação é a brasileira, onde uma fonte de riqueza como o pré-sal – encontrado a centenas de quilômetros da costa – é disputada encarniçadamente por dois ou três Estados em detrimento de todos os demais, que defendem, com justiça, o direito de partilhar daqueles recursos em igualdade de condições, aplicando-os em áreas fundamentais como educação, saúde e segurança pública. A Constituição Federal, em seu artigo 1º, reza que a República Federativa do Brasil é formada pela “união indissolúvel” dos Estados, dos municípios e do Distrito Federal. Mas que união é esta, em que divergências alimentadas por interesses locais sempre se sobrepõem a soluções que poderiam beneficiar todo o país, reduzindo as flagrantes desigualdades regionais? Afinal de contas, que tipo de federação é a brasileira?

            Recentemente já assistimos a renhida disputa, entre os Estados, no tocante à badalada reforma tributária, onde até hoje nunca se chegou também a um acordo. Uns alegam que perderão verbas importantes com as mudanças propostas, enquanto outros as defendem, alegando que assim poderão fortalecer-se economicamente. Mais uma vez, para não quebrar a rotina, ninguém se entende e, no fim das contas, nada se faz. Enquanto as discordâncias se sobrepuserem ao entendimento conjunto, as disparidades persistirão nesta nossa federação capenga, onde os membros mais fortes munem-se de todas as armas que possuem para prevalecer-se diante dos Estados mais fracos, dependentes das verbas federais para se desenvolverem. Ao final de toda a discussão sobre os royalties, espero que o Brasil, como um todo, seja o ganhador, pois somente assim o ente federativo se beneficiará  de forma justa e equânime.

                                                                                             (*) Jornalista.

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