A MORTE TEM NOVO NOME
Vicente Alencar
(Da Academia Cearense de Retórica)
A violência não é mostrada ou apresentada, mais ainda, vivida, numa cidade, num município qualquer, numa Capital, apenas, com assassinatos à bala ou por arma branca, ou seja, os crimes à faca. Não, não se traduz apenas (apenas, para tanta violência é demais) com bala e faca. A violência chega a muito mais, no trânsito, nas drogas, na falta de emprego que se chama de desemprego – às vezes.
No Brasil, falando melhor, no nosso torrão, no nosso pedaço, aqui no Ceará, a morte tem um novo nome: moto. Um transporte chamado moto. Um feixe de ferros, que corre pelas ruas, chamado moto. É isso mesmo, a morte tem um novo nome: moto.
Se você ainda não prestou atenção, se você ainda não se apercebeu, se você ainda não observou, em face da correria do dia a dia, pare e pense um pouco: temos uma Dama de Preto, chamada moto. A moto é uma das maiores agenciadoras da morte dentro da vida.
Diariamente – para quem acompanha o noticiário policial e não liga para as próprias notícias que ouve, vê ou escuta – os jornais, o rádio e a TV nos trazem um enorme número de acidentes, onde as mortes são registradas, minuto a minuto. Os “pilotos” coitados pensam que são imortais e, a cada dia, temos no Ceará uma média de 10 mortes – dia. Se somarmos os acidentes em Fortaleza, Limoeiro do Norte, Tianguá, Juazeiro do Norte, Iguatu, Viçosa do Ceará, para citar apenas algumas cidades, o balanço é cruel.
Há alguns dias estive no Hospital Dr. José Frota, para uma visita a uma pessoa conhecida de um amigo, que pediu-me o acompanhasse. Fui. O repórter sentiu a importância de ir até lá para constatar, com os próprios olhos, o que estou apresentando aqui: a morte tem um novo nome.
Pois bem, na visita pude verificar que enfermarias e corredores lotados, registravam, em sua grande maioria, a presença de acidentados, vítimas de acidentes de moto. Indagando, perguntando, assuntando, pude verificar: em nível de morte, pelo menos uns 20. Para serem liberados com sequelas, mais de 70.
É uma realidade dura, absurda. Insofismável. Não se pode colocar panos mornos ou tampar o sol com uma peneira, quando encaramos, de frentes, a realidade.
Dito tudo isso, apenas uma coisa podemos sugerir: a proibição da venda de motos. A moto é um veículo que está matando milhares e milhares de brasileiros e, deixando outro tanto com sequelas para o resto da vida. Tratamento caro para muitos, apenas túmulos para serem visitados e rosas a serem ofertadas, para superar a imensa saudade.
No final da década de 40, o então presidente Dutra fechou, oficialmente, centenas de Cassinos no Brasil. Os jogos de azar levavam milhares de pessoas para jogar na roleta, no bacará, em tantos outros.
Muitos disseram: vai prejudicar quem trabalha no jogo. Não, não prejudicou. Garçons, garçonetes, motoristas, músicos, cantores, auxiliares, cozinheiros, enfim, uma gama de muitos profissionais trocaram de ramo e foram escapar noutra freguesia.
A moto também deve desaparecer. É um dos maiores agentes de morte do Brasil. Tiremos a moto das ruas, das avenidas, das estradas. Vendedores, entregadores e todos aqueles que dependem da moto estarão escapando da morte e melhorando suas vidas. Não é utopia, é verdade!