DIREITA, ESQUERDA E ELEIÇÃO
O debate eleitoral usa as palavras
direita e esquerda. Enclausura a pluralidade política em duas posições. Depois criou
o centro e inúmeras possibilidades em uma linha entre os extremos. Direita e
esquerda demandam esclarecimentos. As duas posições teriam origem na Assembleia
Nacional Francesa, na Revolução de 1789. Direita os monarquistas, queriam
manter a desigualdade entre os estratos sociais. Esquerda os republicanos, queriam
a igualdade. A Revolução, porém, queria igualdade apenas perante a lei, não na lei. Não propunha a igualdade de todos em tudo ou de resultados. Diferenças materiais não
estavam da mira da revolução e nem sequer a igualdade de alguns em tudo. A hierarquia militar e as distinções havidas como meritocráticas
persistiram. Não era, tampouco, a igualdade
de alguns em tudo. Os revolucionários pretendiam apenas a igualdade de todos em algo mínimo: a obediência à lei
com as suas desigualdades.
A igualdade da Revolução francesa não
era a de épocas posteriores, tendentes à igualdade
de resultados ou de todos em tudo. Ademais, não só a igualdade separava os
partidos da Revolução citada. Revolucionários eram universalistas, declararam
os direitos do homem, não dos franceses. Os seus oponentes aproximavam-se mais
das posturas nacionalistas, tendência cada vez mais nítida nas gerações
seguintes: esquerda era internacionalista, direita nacionalista. Até que a II
GM, as lutas pela descolonização e os primeiros tempos da globalização tornaram
conveniente explorar o nacionalismo. A esquerda passou a nacionalista, até que
os conservadores voltaram-se contra os globalistas. Aí tudo mudou novamente.
Textos bíblicos já usam direita e
esquerda. Israel era uma teocracia. Apoiadores e transgressores da lei mosaica
eram, respectivamente direita e esquerda, favoráveis e contrários à tradição
judaico-cristã. A Revolução francesa se fez contra o trono e o altar. Esquerda e direita definiam as relações com a Igreja,
não lugar das bancadas na Assembleia. A Igreja e os grupos políticos
tornaram-se aliados e adversários, conforme a conveniência momentânea. Direita
e esquerda seriam os defensores e opositores da lei e da ordem? Depende de quem
esteja no poder.
Armas e liberdade negocial são direita? Liberdade
negocial e casamento entre pessoas do mesmo sexo ou direito ao uso de drogas
psicoativas também são direita? Liberais e conservadores convivem juntos na
direita? A pessoa pertencer a ela mesma é liberalismo. Pertencer a algo maior,
à igreja, pátria e família; ou ao partido, à classe social e à humanidade são
coisas de esquerda ou direita? Esquerdistas são conservadores? Socialistas
instituíram uma nova classe com desigualdades
profundas. Alguns regimes de direita suprimiram liberdades. Todo regime defende
as suas leis e a sua ordem. Igualdade e liberdade parecem virtudes, mas seria
preciso qualificar tais coisas. O que vemos é uma “ética” teleológica, mero pragmatismo
e desinformação.
Porto Alegre, 25 de
junho de 2018.
Rui
Martinho Rodrigues
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