Ford e Maria Bonita
Geraldo Duarte*
Maria Bonita, fogosa amásia de Lampião, não era a mocinha brejeira, dócil e recatada, conforme descrição de alguns escritores do cangaceirismo, em especial, os desejosos de torná-la heroína, exemplo de guerreira e dedicação feminina.
No segundo volume de “Lampião e o Cangaço na Historiografia de Sergipe”, do amigo Archimedes Marques, lançamento que participamos em abril último, há narrada façanha modernista da cangaceira.
Encontram-se citações descrevendo suas peripécias ao dirigir automóvel da marca Ford, modelo 1924 ou 1925, do engenheiro Hercílio Brito, fatos registrados na fazenda Cuiabá, de propriedade do pai, coronel Chico Porfírio de Brito.
“Quando o bando de Lampião ficava ali, Maria Bonita dirigia tal veículo. Juntavam algumas companheiras e ela saía aos trancos e barrancos, pelas vias internas da fazenda, com o pessoal sacolejando todo quando o carro balançava, como um barco em mar bravio, pela estrada esburacada e cheia de pedra. Os cabras gritando, rindo e praguejando. As mulheres chamando pelos santos de devoção, dando gritinhos histéricos, pedindo cuidado a motorista aprendiz.” (Antônio Amaury Corrêa de Araújo, apud Archimedes).
Ainda conforme pesquisas de Archimedes, instruções deram-se antes, na vila Pau-Ferro, atualmente Itaíba, Pernambuco. Realizaram-se em carro de Audálio Tenório de Albuquerque, a cargo do guiador Antônio Paranhos, com permissão de Lampião.
Saliente-se a importância que estudiosos oferecem a temática, apresentando-a expressiva por tratar-se da “rainha da cangaceirada” e, talvez, justificada ante a época, as localidades e o machismo sertanejo.
*Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.
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