Caros Confrades da Academia Cearense de Engenharia
Tem plena razão o agrônomo José Maria Pimenta na coluna do jornalista Egidio Serpa do Diário do Nordeste do dia 18.05.2018 (ver abaixo) sobre a questão da evaporação nos grandes açudes do Estado do Ceará. O que o ex-presidente da EMATERCE falou já era motivo de preocupações do DNOCS desde os primórdios de sua existência, na década de 1910. Está em qualquer livro de Hidrologia, uma Ciência que ainda hoje, parece não foi absorvida pelos atuais gestores dos recursos hídricos do Estado do Ceará.
A mensagem do Dr. José Maria Pimenta é a mesma que está nos três volumes de Hidrologia elaborados pela SUDENE (Estudos de Base dos Recursos Hídricos do Vale do Rio Jaguaribe) com a participação da Missão Francesa durante cinco anos, na década de 50, onde se conclui que não vale a pena construir uma grande barragem, com exagerada acumulação d´água, porque a partir de determinada cota (altura) a vazão regularizada da mesma se torna assintótica, isto é, inalterada, portanto, constante.
Em outras palavras, a disponibilidade hídrica de um reservatório não aumenta em função de sua maior capacidade de acumulação d´agua (apartir de determinada altura da barragem), conforme dissemos acima. Isto é uma verdade tão cristalina, como dois mais dois são quatro.
Um exemplo do que acima foi dito, basta considerarmos o Açude Castanhão, pois tanto faz construir naquele local uma barragem na cota 80m (1,2 bilhão de metros cúbicos de acumulação d´água), ou na cota 100m (6,7 bilhões de metros cúbicos d´água), a sua vazão regularizada é a mesma. Eis a razão porque o agrônomo José Maria Pimenta diz que só há um jeito de acabar com a evaporação nos açudes é construí-los profundos, com o menor espelho dágua.
Infelizmente, os técnicos do extinto DNOS (Departamento Nacional de Obras de Saneamanto), que tinha sua sede no Rio de Janeiro, portanto sem o necess[ario conhecimeto das características do semiárido nordestino, ao projetarem o Açude Castanhão, contrariando o pensamento do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) não levaram em conta este importante detalhe de nossa Região: a altura ideal da barragem. Para eles, “quanto mais alta for a barragem, maiores serão os seus benefícios”.
Não entendi a proposta do Dr. José Maria Pimenta de ser instituído “um prêmio de R$ 50 milhões para atrair a atenção de pesquisadores científicos do Brasil e do mundo”. Realmente, nesta questão da evaporação, o livro A FACE OCULTA DA BARRAGEM DO CASTANHÃO, de minha autoria, mostra que foram utilizados três índices evaporimétricos na elaboração dos estudos (??) hidrológicos do Açude Castanhão: 1.700 mm, 2.500 mm e 2.893,5 mm (este, pelo EIA-RIMA, nos parecendo ser o mais verdadeiro que resultou na vazão regularizada de 10 metros cúbicos por segundo, contrariando a vazão de 30m³/s inicialmente anunciada pelo seu idealizadore, em 1985, repito, o Departamento Nacional de Obras de Saneamento- DNOS.
O Plano Estadual de Recursos Hídricos (1992) é omisso quanto a esta principal característica do Açude Castanhão. Como se pode levar a sério um estudo desta natureza? Neste aspecto, concordo que haja uma revisão geral e abrangente em toda o sistema hídrico que se pratica atualment no Estado do Ceará, lclusive a exigência para que esta atividade, seja conduzida exclusivamente por profissionais da área de engenharia, que tenha no seu curriculo a cadeira de Hidrologia.
Atenciosamente, Cássio Borges
(Cássio Borges, engenheiro civil, especialista em Recursos Hídricos e Barragens)
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