O rabo da besta
Geraldo Duarte*
Do italiano Frei Vital de Frescorello ou Vitale de Frascarollo, já apresentado no artiguete anterior, assomou o celebrado Frei Vidal da Penha, depois de permanência no Convento de Nossa Senhora da Penha, em Recife, e a adoção da denominação clerical.
Evangelizador das Santas Missões e devoto das Dores da Virgem Santíssima desbravou os sertões nordestinos, divulgando os princípios da Igreja e a palavra do Senhor.
Na localidade visitada fincava um cruzeiro, medindo vinte palmos de altura o lenho vertical e, dois, cada dos braços. Pedras toscas eram amontoadas para servir de base. O ato solenizava-se pela celebração de uma missa, no clássico e castiço e latim, entoada por melódicos cânticos e complementada em extenso sermão. Este, na quase totalidade das vezes, prenhe de reprimendas e de catastróficas profecias.
Dava-se mear de dia ensolarado e abrasador. Anunciador de seca.
Cansado e empoeirado, o destemido capuchinho chegou à margem do rio Acaraú. Local desértico e com pouca mata, porém encobridor de olhares e convidativo ao sobrenado.
Apeou-se de sua mula, deu-lhe água e amarrou-a num arvoredo. Despiu-se da batina, pendurando-a, juntamente com o chapéu, num galho.
Matou a sede e refrescou-se em demorado banho. Ao final, quando se ia vestir, tomou-se de surpresa e indignação. Alguém usou seu chapéu fazendo-o de penico. Encheu-o com fezes.
Iroso, o missionário desistiu da ida a Santana do Acaraú, montou na animália, bateu o pó das alpargatas de rabicho e, antes de rumar para Sobral, vaticinou: “Esta terra e o povo desta terra crescerão para baixo, como o rabo de minha besta.”.
*Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.
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