Violas amaldiçoadas
Violas amaldiçoadas
Geraldo Duarte*
De fatos históricos e do replicar de lendas e mitos, nascem infindos e preciosos causos. Uns, verdades bem verdadeiras. Outros, simples estórias curiosas. Todos, legados de alguma serventia futura.
Deixe-se a leréia para depois e assunte-se o ocorrido.
Tempo em que Campo Grande não era Guaraciaba do Norte e Frei Vidal da Penha pregava e profetizava pela serra da Ibiapaba.
Desde o momento em que o capuchinho adentrou no arruado, a cavaleiro de dócil mula, os habitantes acompanharam-no. Vivesse Miguel de Cervantes Saavedra (1547-1616) e presenciasse a cena, talvez procurasse enxergar um escudeiro acompanhando o sacerdote andante.
Assim que descavalgou, de quase um coro ensaiado, ouviu um rosário de lamúrias e queixumes. As lamentações e reclamos resumiam-se na perversão, devassidão e libertinagem. “Campo Grande vive dias de Sodoma e Gomorra!”, asseverou uma longeva religiosa letrada.
O missionário soube que a causa maior dos males eram as violas e as festas. Nas ruas, vilarejos e povoados.
Logo, convocou missa extraordinária a ocorrer na manhã seguinte. E que ninguém, ninguém mesmo, se atrevesse a faltar.
O sermão foi apocalíptico. Aqueles possuidores de violas, sob pena de excomunhão, trouxessem-nas, até o final da tarde, e as colocasse ali.
Fez-se um montão enorme. O catequista determinou que as pendurassem numa árvore seca, com as sobrantes embaixo, realizando uma fogueira.
Fogo ateado. Presenciadores juravam ter ouvido sons de choro saído das cordas durante a queima.
No local, dito da purificação e afastamento dos pecados, Frei Vidal erigiu um cruzeiro e abençoou os moradores.
*Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.
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