O MAR SE REVOLTA
O país do futuro passou
a país sem-futuro. Temos péssimos governos, mas queremos mais Estado. Pagamos
muitos tributos e não recebemos serviços públicos de qualidade – mas confiamos
no Estado e desconfiamos da iniciativa privada, a quem culpamos pelo péssimo
uso que o Leviatã faz da pesada carga tributária. Quanto mais pagamos tributos
mais o Estado se afoga em dívidas, sem que tal endividamento seja fruto da
prestação de serviços ou de investimentos. É um milagre reverso: não
investimos, não desfrutamos de bons serviços e temos uma enorme dívida.
O impasse dos serviços
de transportes rodoviários é dramático. Temos péssimas estradas nas quais os
assaltos viraram rotina. Petrobras, destruída por anos de irresponsabilidade,
precisa fazer caixa apressadamente e a todo custo. Os estados e a União não
podem abrir mão de tributos. Estão falidos. Caminhoneiros foram atraídos para a
armadilha da renovação da frota mediante a oferta de crédito fácil de obter e
difícil de pagar. A recessão diminuiu a demanda por carga, desequilibrando o
negócio de transporte rodoviário, como tantos outros negócios.
Era pouco para termos a
tempestade perfeita? Veio a alta do petróleo e do dólar (caberia alegar a
teoria da imprevisão para rever os contratos de financiamento? Talvez), a crise
política, o deserto de líderes, a ausência de partidos que mereçam este nome,
agravada pela fragmentação crescente das siglas partidárias, dificultando a
governabilidade já comprometida pela desmoralização dos poderes da República em
razão dos escândalos injuriosos, bastante para causar rubor na face do
Macunaíma. Não seria preciso mais nada. Mas tem mais: estamos em um ano
eleitoral.
A democracia não tem
defesa contra a maioria. O comprometimento de todos os Poderes nos deixa
desesperançados. Salvadores da pátria não passam de promessa de mais crise.
Escolas e imprensa, aparelhadas, só atiçam a fogueira da irracionalidade,
estimulando a luta por mais governo ineficiente e menos iniciativa eficiente
dos cidadãos. O provérbio segundo o qual a visão do patíbulo clarifica a mente
não se confirma entre nós. A matança no trânsito não nos torna mais prudentes.
A revolta da sociedade não comove a classe política. Temos uma tempestade
comparável a um mar revolto. As ondas se erguem e a reação da sociedade parece
dizer: Senhor, salva-nos que perecemos, a semelhança da narrativa de Mateus 8;
23-27.
Fortaleza, 26 de maio
de 2018.
Rui Martinho
Rodrigues
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