O DESAFIO
O Brasil vive um
momento decisivo. Os graves problemas não se resolviam, agravavam-se, nas
palavras de Tancredo Neves, mas tornaram-se visíveis, sensibilizaram os
cidadãos. Afastar corruptos e adeptos de soluções inviáveis e liberticidas está
no cerne do debate. Longa vida ao Ministério Público (MP), Polícia Federal (PF)
e magistratura, pelo trabalho que estão realizando, voltado para os aspectos
citados.
Os cidadãos
indignaram-se e empolgaram-se com o trabalho dos órgãos encarregados de fiscalizar
o cumprimento da lei e do julgamento das condutas dos denunciados pelo MP.
Agora é repensar o destino a ser dado ao voto. A renovação política tornou-se
uma promessa verossimilhante. O curto prazo da campanha eleitoral, a
visibilidade dos que ocupam posição na vida pública, amparados no Diário
Oficial e na caneta, dois diligentes e prestimosos auxiliares, lança dúvida
sobre o alcance da esperada renovação.
Afastar agentes
públicos de conduta indesejável é necessário. Mas não basta. A renovação de
pessoas e partidos não significa mudança dos mecanismos eleitorais, das
práticas políticas e administrativas, das ideias que inspiram as iniciativas
governamentais. Houve ocasiões em que substituímos personagens e agremiações,
mas não os hábitos ou a orientação teórica e metodológica. Giorge Lukács (1885
– 1971) disse que o objetivo da sua luta política era a conquista da cultura;
Antonio Gramsci (1891 – 1937) afirmou que não levaria a nada, no ocidente,
tomar o palácio de inverno, aludindo aos acontecimentos de 1917, na Rússia, era
preciso conquistar a cultura.
Os dois pensadores
citados merecem o crédito da competência demonstrada pelos comunistas, quando
se trata de luta política. Sendo minoria, eles conseguiram dominar grande parte
dos sindicatos, da imprensa, da literatura, do cinema e das escolas em todo o
mundo, com exceção do leste europeu, onde deixaram de ser estilingue para se tornar
vidraça. A renovação vinda das urnas é necessária. Mas é preciso renovar a
mentalidade dominante. Enfrentar a tarefa de explicar ao povo que bolhas de
consumo e assistencialismo baseados no desequilíbrio das contas públicas,
aumento de renda sem aumento da produtividade e consumo sem renda são ilusões.
É preciso mostrar aos intelectuais que quando todo poder é dado à militância
partidária a elite intelectual é perseguida, para desfazer a ilusão de que os
intelectuais um dia serão os reis filósofos. É preciso mostrar a necessidade das
reformas e da renovação das ideias.
Fortaleza, 13 de maio
de 2018.
Rui Martinho Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário