Deputados têm direito a serviço VIP em aeroporto de Brasília
MÁRCIO FALCÃO
GABRIELA GUERREIRO
DE BRASÍLIA
Não enfrentar filas para viajar, problemas para despachar bagagens ou ter que chegar com antecedência para embarcar em um voo são para poucos. Mas as medidas estão disponíveis para os 513 deputados federais.
Além do Senado, a Câmara mantém cinco funcionários contratados para facilitar as viagens dos deputados, com salários líquidos que variam de R$ 8,7 mil a R$ 11,9 mil mensais.
Os servidores atuam no aeroporto de Brasília, onde a Câmara também mantém uma sala VIP, na área de embarque, para abrigar os deputados que esperam seus voos. Isso permite que esperem o embarque separadamente dos demais passageiros.
A Folha mostrou na terça-feira que o Senado mantém serviço semelhante, com nove funcionários contratados para fazer check-in e despachar malas dos senadores --com remunerações líquidas entre R$ 14 mil e R$ 20 mil.
Sergio Lima/Folhapress | ||
Sala no aeroporto de Brasília utilizada pelos funcionários que fazem check-in e facilitam as viagens dos deputados |
Só com os alugueis das salas VIPs, o Congresso gasta por ano R$ 142,3 mil. A Câmara paga por mês à Inframérica, consórcio que administra o aeroporto de Brasília, R$ 7,5 mil por mês por uma sala de 43 m2.
O Supremo Tribunal Federal, o Itamaraty e o Superior Tribunal de Justiça também alugam salas no aeroporto com as mesmas funções.
A Câmara afirma que o serviço tem o objetivo de dar "suporte e recepção de parlamentares, autoridades e convidados que participam de eventos na instituição", como audiências públicas e sessões solenes.
Editoria de Arte/Folhapress |
Segundo a assessoria de imprensa da Casa, os servidores são comissionados e trabalham vinculados à diretoria-geral em sistema de escala ao longo da semana, inclusive nos fins de semana.
Segundo relatos de deputados que frequentam a sala, o espaço tem computadores e local para reuniões reservadas. Além dos congressistas, convidados da instituição têm acesso ao local e às facilidades de check-in.
O deputado Renato Andrade (PP-MG), que utilizava a sala, defendeu o serviço ao afirmar que os congressistas têm uma agenda apertada, o que os impede, em diversas ocasiões, de seguir os trâmites normais de embarque.
"É uma facilidade para a gente, mas sabemos que isso custa muito para o país. Os salários estão fora da realidade", admitiu.
Andrade disse que essa foi a terceira vez que recorreu aos auxiliares de check-in porque estava atrasado para pegar o voo --depois de participar da posse do novo ministro Guilherme Afif Domingos (Secretaria da Micro e Pequena Empresa). "Sem eles, eu teria perdido o voo. Cheguei em cima da hora."
O serviço funciona da seguinte forma: o gabinete do deputado entra em contato com os funcionários, por telefone ou e-mail, solicitando o check-in. Após o pedido, os servidores confirmam o embarque nos balcões das companhias aéreas ou nos caixas espalhados pelo aeroporto. A única preocupação para o deputado é embarcar.
Um dos funcionários, que não quis revelar seu nome, disse que trabalha há mais de 30 anos na Câmara com essa função. O servidor afirmou que o serviço foi criado para evitar "confusões" entre os deputados que chegavam atrasados e queriam usar do cargo para furar filas.
Os servidores defendem os altos salários com o argumento de que a função envolve "muita responsabilidade", com jornadas que vão das 7h às 21 horas.
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