Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Neruda & Coração

"É natural que minha poesia esteja submetida ao juízo, tanto da crítica elevada como exposta à paixão
do libelo.Isto faz parte dos regras do jogo. Sobre este ponto da discussão não tenho o que dizer, mas tenho argumento. Para a crítica especializada, meu argumento são meus livros, minha poesia inteira. Para o libelo incompatível tenho também o direito de argumentar com a minha própria e constante criação"Pablo Neruda(Em Confesso que Vivi)



Soneto: "Matilde"

Autor "Pablo Neruda"

I

MATILDE, nome de planta, ou pedra ou vinho,

do que nasce da terra e dura,

palavra em cujo crescimento amanhece,

em cujo estio rebenta a luz dos limões.

II

Nesse nome correm navios de madeira

rodeados por enxames de fogo azul-marinho,

e essas letras são a água de um rio

que em meu CORAÇÃO calcinado desemboga

III

Oh! Nome descoberto sob uma trepadeira

como a porta de um túnel desconhecido

que comunica com a fragrância do mundo!

IV

Oh! Invade-me coim tua boca abrasadora,

indaga-me, se queres, com teus olhos noturnos,

mas em teu nome deixa-me navegar e dormir.

****

Soneto:"ÁSPERO AMOR"

Autor: Pablo Neruda

I

"Áspero amor, violeta coroada de espinhos,

cipoal entre tantas paixões eriçado,

lança da dores, corola de cólera,

por que caminhos e como se dirigiste a minha alma?

II

"Por que precipitaste teu fogo doloroso,

]de repente, entre as folhas frias de meu caminho?

Quem te ensinou os passos que até mim te levaram?

Que flor, que pedra, que fumaça, mostram minha morada?

III

"O certo é que tremeu a noite pavorosa,

a aurora encheu todas as taças com seu vinho

e o sol estabeleceu tua presença celeste,

IV

"enquanto o cruel amor sem trégua me cercava,

até que lacerando-me com espadas e spinhos

abriu no CORAÇÃO um caminho queimante".

****

"Soneto"Não te toque"

Autor Pablo Neruda

I

"Não te toque a noite nem o ar, nem a aurora,

só a terra, a virtude dos cachos,

as maçãs que crescem ouvindo a água pura,

o barro e as resinas de teu país fragrante.

II

"Desde Quinchamali onde fizeram teus olhos

aos teus pés criados por mim na Fronteira

és a greda escura que conheço:

em teus quadris toco de novo todo o trigo.

III

"Talvez tu não saibas, araucana,

que quando antes  de amar-te me esqueci  teus beijos

meu CORAÇÃO ficou recordando na boca

IV

"E  fui um ferido peça las ruas

até que compreendi que havia encontrado

amor, meu território de beijos e vulcões"

*****

Soneto"Nos Bosques"

Autor Pablo Neruda.

I

"Nos Bosques , perdido, cortei um ramo escuro

e aos lábios, sedento, levantei seu sussurro:

era talvez a voz da chuva  chorando,

um sino fendido ou um CORAÇÃO partido.

II

"Algo que de tão longe me parecia

oculto gravemente, coberto pela terra,

um grito ensurdecido por imensos outonos,

pela entreaberta e úmida escuridão das folhas.

III

"Por ali, despertando dos sonhos do bosque,

o ramo de avelã cantou sob minha boca

e seu vagante olor subiu por meu critério

IV

"como se me buscassem de repente as raízes

 que abandonei , a terra perdida com minha infância,

e me detive ferido pelo aroma  errante"

****

Soneto:"NEM A COR"

Autor:Pablo Neruda

I

"Nem a cor das dunas terríveis em Iquique

nem o  estuário do Rio Doce de Guatemala,

mudaram teu perfil conquistando do trigo,

teu estilo de uva grande , tua boca de guitarra

II

"Oh! CORAÇÃO, oh! Minha desde todo o silêncio,

dos cumes onde reinou a trepadeira

até as desladas planíceis da platina,

em toda pátria pura te repetiu a terra.

III

"Mas nem a intratável mão de montes minerais,

nem neve tibetana, nem pedra da Polônia,

nada alterou tua forma de cereal viageiro.

IV

"como se greda ou trigo, guitarra  ou cachos

do Chile defendessem em ti  seu território

impondo o mandato da lua silvestre"

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