Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

terça-feira, 27 de abril de 2021

PARA QUE SERVEM OS ARTISTAS? PAULO VERAS

 PARA QUE SERVEM OS ARTISTAS?


Lá pras bandas de Tamboril, contava um velho Pajé como certo que no começo de tudo, Tupã foi bater na tenda dos Anjos Obreiros e encomendou um mundo bem grande, no qual faria a aldeia para seus primeiros filhos, os índios.


Concluído o trabalho, o Mestre Construtor e seus ajudantes de obra tinham feito uma bola de barro enorme, de estrutura sólida, equilibrada no espaço-sem-fim, segura por fios invisíveis, conforme as rigorosas leis da natureza.


Entregaram a obra no dia certo, prestando contas de tudo.


Tupã recebeu a encomenda e ficou satisfeito... Parcialmente.


Chamou, então, os Anjos Contemplativos – um bando de desempregados que (segundo os atarefados) vivem perambulando pelos jardins do céu, trocam o dia pela noite e se deleitam criando deleites. Pois bem, Tupã mandou que esses “artistas” dessem um toque de sutileza na obra recém-criada.


Aí eles foram pintando, sem nenhuma pressa ou roteiro predeterminado, umas nuvens flutuantes sobre a imensa bola; depois as nuvens criaram a chuva e para a chuva correr, foram rabiscados, “na doida”, caminhos para os rios; os quais, cansados de correr mundo, adentraram-se para inventar o mar e por aí vai. 


Depois, os artistas colocaram flores nos campos e árvores cobrindo vales e montes; fizeram as frutas e trouxeram, sabe Deus de onde, os passarinhos e ensinaram a eles notas musicais...


Quando Tupã trouxe os primitivos indígenas para morar aqui, alguns seguiram o destino dos Anjos Obreiros e puseram-se, febrilmente, a fazer estradas, construir moradas, domesticar os bichos e inventar coisas, até contraírem o progresso.


Felizmente, uns poucos também seguiram o destino dos anjos. Mas, dos Anjos Contemplativos. E vêm, desde então, tentando dar gosto à vida, imitando o que de belo e harmonioso existe na sua bola colorida. 


Copiaram as cores da mãe natura; copiaram o bico dos passarinhos e fizeram a flauta. Do interior dos blocos de pedra e troncos de madeira arrancam as mais belas figuras, esculpindo a imagem da pessoa amada; e, para cantar o AMOR, que sempre existiu dentro deles, brincaram de criar a POESIA.


Aqui termina a lenda do velho Pajé. Começa a peripécia do Poeta.


PAULO Fernando Torres VERAS

Nenhum comentário: