PARA QUE SERVEM OS ARTISTAS?
Lá pras bandas de Tamboril, contava um velho Pajé como certo que no começo de tudo, Tupã foi bater na tenda dos Anjos Obreiros e encomendou um mundo bem grande, no qual faria a aldeia para seus primeiros filhos, os índios.
Concluído o trabalho, o Mestre Construtor e seus ajudantes de obra tinham feito uma bola de barro enorme, de estrutura sólida, equilibrada no espaço-sem-fim, segura por fios invisíveis, conforme as rigorosas leis da natureza.
Entregaram a obra no dia certo, prestando contas de tudo.
Tupã recebeu a encomenda e ficou satisfeito... Parcialmente.
Chamou, então, os Anjos Contemplativos – um bando de desempregados que (segundo os atarefados) vivem perambulando pelos jardins do céu, trocam o dia pela noite e se deleitam criando deleites. Pois bem, Tupã mandou que esses “artistas” dessem um toque de sutileza na obra recém-criada.
Aí eles foram pintando, sem nenhuma pressa ou roteiro predeterminado, umas nuvens flutuantes sobre a imensa bola; depois as nuvens criaram a chuva e para a chuva correr, foram rabiscados, “na doida”, caminhos para os rios; os quais, cansados de correr mundo, adentraram-se para inventar o mar e por aí vai.
Depois, os artistas colocaram flores nos campos e árvores cobrindo vales e montes; fizeram as frutas e trouxeram, sabe Deus de onde, os passarinhos e ensinaram a eles notas musicais...
Quando Tupã trouxe os primitivos indígenas para morar aqui, alguns seguiram o destino dos Anjos Obreiros e puseram-se, febrilmente, a fazer estradas, construir moradas, domesticar os bichos e inventar coisas, até contraírem o progresso.
Felizmente, uns poucos também seguiram o destino dos anjos. Mas, dos Anjos Contemplativos. E vêm, desde então, tentando dar gosto à vida, imitando o que de belo e harmonioso existe na sua bola colorida.
Copiaram as cores da mãe natura; copiaram o bico dos passarinhos e fizeram a flauta. Do interior dos blocos de pedra e troncos de madeira arrancam as mais belas figuras, esculpindo a imagem da pessoa amada; e, para cantar o AMOR, que sempre existiu dentro deles, brincaram de criar a POESIA.
Aqui termina a lenda do velho Pajé. Começa a peripécia do Poeta.
PAULO Fernando Torres VERAS
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