ELEIÇÕES E CRIME
As
eleições serão pobres. É proibido o financiamento de campanha pelos
empresários. O temor da lei estaria desencorajando o caixa 2. O crime pesado,
porém, estaria entrando no financiamento de campanhas, sem hesitar em desafiar
a lei. Empresários, tratados com a dureza da lei no Mensalão e no Petrolão, estão
temerosos.
A
política é semelhante ao jogo. A dinâmica da peleja não se detém diante nada. É
assim com o jogo do bicho, bingos e cassinos clandestinos. Jogo é um vício, é
prazeroso e somos hedonistas. As drogas reinam desafiando a lei.
Proibidas
as doações de empresários, o crime pesado ocupa o espaço deixado vago. Políticos
com algum escrúpulo ficam sem financiamento. Assim selecionamos os piores
caracteres para a vida pública. Somos rigorosos na feitura da lei. Proibimos os
jogos, armas de fogo disfarçadamente, criminalizamos drogas. Mas somos
lenientes na execução das normas. O processo penal suaviza a aplicação das
sanções Penais.
O
jogo se faz publicamente. A venda de drogas é tão ostensiva quanto qualquer
comércio. A bandidagem está armada até os dentes. Melhor seria termos leis
menos severas que fossem efetivamente cumpridas. Não deveríamos proibir o que
não podemos controlar, quando a proibição resulte em efeitos prejudiciais à
sociedade.
O
financiamento de campanhas e a corrupção andaram juntos. Mas sabíamos quem eram
os falsos doadores. Falsos porque não eram doações, mas um tipo degenerado de
investimento. O Ministério Público e a Polícia Federal já sabiam quem deveria
ser vigiado. Agora não saberemos quem serão os financiadores. Os investigadores
não terão oportunidade de executar mandados de busca e apreensão nos
escritórios das empresas financiadoras. O crime pesado não tem escritórios ou
os tem em lugar incerto e não sabido.
Os
legisladores se satisfazem em aparentar virtude, proibindo e apenando
severamente tudo o que não é meritório aos seus olhos. Mas existem doações baseadas
em afinidade doutrinária ou em interesses legítimos. Um político eleito com
financiamento de empresários lutava por aprofundar o Mucuripe e trazer a
energia de Paulo Afonso, entre outros interesses legítimos. Chamava-se Virgílio
Távora. Hoje teria dificuldade de obter financiamento.
Outra
face do exibicionismo legislativo é o abstracionismo teórico. Legisladores não
auscultam os eleitores a quem deveriam representar. Preferem o aconselhamento
de intelectuais em assuntos de natureza política. Um jurista baiano disse, numa
conferência, que o texto de um artigo de uma das reformas legislativas estava
literalmente no caderno dos seus alunos, de onde o assessor de senador havia
retirado. O abstracionismo teórico faz com que o mundo admire as nossas leis,
sem pensar na inviabilidade delas. O conselho dado por um pai, ao filho que se
formava em Direito, na ficção machadiana, era objetivo: recomendava falar
sempre teoricamente, dando a impressão de erudição e evitando as espinhosas
questões práticas.
O
ministro Luís Barroso votou. O STF seguiu e legislou. O financiamento tornou-se
oculto. A participação do crime nas eleições cresceu.
Fortaleza,
16/08/16
Rui
Martinho Rodrigues
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