O PLEBISCITO BRITÂNICO
Os
britânicos escolheram um caminho economicamente desvantajoso. A indústria
automobilística daquele país fica em desvantagem com a restrição ao grande
mercado da União Europeia (UE). A indústria mais sofisticada, em geral, terá
prejuízo. A restrição à entrada de imigrantes torna deficitária a substituição
de idosos por jovens. O Reino Unido tende, com a decisão em apreço, a agudizar
a própria desunião. O separatismo doméstico ganhou força. A decisão tomada
contraria os interesses econômicos. O desafio à lógica do mercado, todavia, está
sendo respeitada, apesar de protestos. Acostumamo-nos a pensar que o interesse
econômico é, em última instância, como diriam um pensador de grande prestígio,
o fator decisivo na determinação dos rumos da sociedade.
O
acatamento da voz das urnas, porém, lembra a força da tradição democrática dos
anglo-saxões, respeitada em todos os países desta linhagem, sem interrupção há
séculos.
É
oportuno ressaltar que a saída dos britânicos da UE é um recuo da globalização.
Os críticos do citado processo de integração internacional desaprovam de modo
acrimonioso o obstáculo interposto no caminho do avanço da internacionalização
das economias e das culturas nacionais.
A
decisão do plebiscito britânico pretende defender as culturas nacionais dos
povos que integram o Reino (não muito) Unido. Também expressa a percepção do
povo simples e dos pequenos negócios e dos desprezados velhinhos. Os
intelectuais, as pessoas das diversas elites e os grandes negócios também foram
contra.
Os
analistas “politicamente corretos” desta vez estão do lado dos grandes negócios
e das elites em geral, a começar pela “aristocracia” intelectual. O povo
simples perdeu o encanto? Ou as suas decisões só devem ser acatadas quando
sintonizadas com o pensamento dos “esclarecidos”, herdeiros dos “reis
filósofos” concebidos por Platão?
O
nacionalismo, seja aquele do tipo econômico, seja do tipo preocupado com a
conservação das culturas nacionais, influenciou a atitude separatista.
Curiosamente os que até ontem combatiam a “famigerada globalização”, agora
defendem a internacionalização das nações europeias.
O
nacionalismo, do ponto de vista filosófico, expressa uma distinção
injustificável entre seres humanos. Economicamente é a festa dos que se
locupletam com as reservas de mercado. Politicamente é uma oportunidade ímpar
para o populismo inescrupuloso. Mas isso só agora foi descoberto? Ser
nacionalista deixou, de modo abrupto, de ser “politicamente correto”?
Caíram
as bolsas de valores. Caiu a libra. Parece, porém, que nem tudo é mercadoria,
quando se decide contrariamente a tão criticada “lógica dos mercados”. Curioso
é que tantos analistas estejam contrariados com o desprezo por tal lógica,
associado a uma tentativa de preservar uma cultura nacional, segundo um
raciocínio semelhante aos argumentos em defesa do cinema, da música e da
literatura brasileiras.
A
mudança subitânea de valores e princípios, no caso, diz alguma coisa sobre o
discurso “politicamente correto”.
Fortaleza,
27 de junho de 2016
Rui
Martinho Rodrigues
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