ATA
DA REUNIÃO SOLENE DE ANIVERSÁRIO DA
ACADEMIA
FORTALEZENSE DE LETRAS
No dia 14 de junho de 2016, às 16:00
horas, reuniu-se a Academia Fortalezense de Letras no Palácio da Luz, à Rua do
Rosário, nº 01, Centro, com a presença dos acadêmicos Fernanda Quinderé
(presidente), Beatriz Alcântara (Diretora de Cultura e Publicação), Seridião
Montenegro (1º secretário), Roberto Gaspar (2º secretário), Rita de Cássia (1º
tesoureiro), Régis Frota (2º tesoureiro), Vicente Alencar, Roberto Ribeiro, Cybele
Pontes, Regina Fiúza, Ednilo Soárez, Geraldo Jesuíno, Graça Fonteles, Maria
Luiza, Giselda Medeiros, Constança Távora e Suzana Dias Ribeiro (do Quadro de
Honra). Também estiveram presentes a Supervisora Letícia Gontijo, a
Coordenadora de Responsabilidade Social, Renata Viana, e o professor Genuíno
Sales, todos da Organização Educacional Farias Brito, além de três alunos do
professor Régis Frota na UFC e familiares dos acadêmicos. Justificaram a
ausência, por motivos de força maior, José Augusto Bezerra e Francisco Lima
Freitas.
Atuou como mestre de cerimônias a
confreira Regina Fiúza, que convidou para compor a mesa: a presidente Fernanda
Quinderé, a Diretora de Cultura e Publicação Beatriz Alcântara, a confreira Cybele
Pontes, representando os ex-presidentes da AFL, e o professor Genuíno Sales do
Farias Brito.
Em seguida, passou a palavra à presidente
Fernanda Quinderé que deu as boas vindas a todos, renovando a vontade de fazer
alguma coisa por nossa cidade. Rememorou que em 14/06/2002, nessa mesma sala,
os fundadores da AFL tomaram posse, sendo acolhidos por Artur Eduardo
Benevides, então presidente da Academia Cearense de Letras, com a presença de
Eduardo Campos, que, a seu pedido, foi quem lhe colocou o colar acadêmico.
Lembrou que a fundação da Academia Fortalezense de Letras decorreu de
iniciativa de José Luís Lira e Matusahila Santiago e que, nesses 14 anos alguns
partiram, outros desistiram. Em consequência, algumas cadeiras foram preenchidas,
duas se encontram vagas. A do confrade José Teles está aguardando o decurso do
prazo de 30 dias, para a publicação do edital.
A presidente citou os nomes dos
presidentes da AFL, na ordem cronológica dos mandatos: Cid Carvalho, Cybele
Pontes, João Soares Neto, Ednilo Soárez, Gizela Costa, Lúcia Lustosa e Fernanda
Quinderé.
Informou que convidou para a sessão solene
de aniversário da AFL os fundadores Matusahila Santiago e José Luís Lira. Lira,
por e-mail, fez um relato circunstanciado, enviado a todos os acadêmicos, de
como ocorreu a criação e fundação da academia, e no final justificou a ausência
dos dois. Para concluir essa etapa da reunião, a presidente Fernanda Quinderé leu
parte de um texto da autoria do escritor Fernando Pessoa em homenagem por seu
aniversário.
A mestre de cerimônias Regina Fiúza,
passou a palavra ao acadêmico Regis Frota, para falar sobre Cervantes e Don Quixote
de la Mancha.
O conferencista, acadêmico Francisco Régis
Frota Araújo, iniciou com os dados biográficos de Cervantes, que nasceu em
Alcalá de Henares em 1547 e morreu há 400 anos em 1616, mesmo ano em que
faleceu William Shakespeare.
Destacou que a insanidade de don Quixote
foi a primeira grande insanidade de um protagonista da literatura ocidental,
qualificando-se como insanidade transcendental, movida pela fé, enquanto o
protagonista shakespeariano se move pela dúvida (to be or not to be...do
Hamlet), considerada a transcendental forma de loucura. Em 1568, Cervantes já
escreve poemas e no ano seguinte vai a Roma (Itália), onde trabalha como
serviçal da entourage do Mons.
Acquaviva, que mais tarde seria Cardeal. Depois, tornou-se soldado na companhia
de Diego de Urbina (1569), atravessando o país onde conhece a literatura
renascentista italiana teocêntrica, de Dante Alighiere a Boccacio. Em 1571,
Miguel de Cervantes participa da batalha de Lepanto, onde, baleado, perde os
movimentos da mão esquerda. Em 1575 Cervantes embarca para a Espanha e, na
viagem se torna prisioneiro em Argel, base dos piratas da Berbéria e grande
mercado de escravos, onde permanece preso por cinco anos. De volta à Espanha,
tenta sem sucesso viajar para a América, passando a trabalhar como coletor de
impostos em Sevilha. Acusado de vender trigo sem autorização, é preso em 1592,
mas continua escrevendo. Vive em Andaluzia, Córdoba, Sevilha, Granada e La
Alhambra. Publica a 1ª parte de Don Quixote em 1605 e após surgir versões
clandestinas, em falsa continuação assinada por Alonso Fernandez Avelianeda,
Cervantes se sente estimulado a publicar uma 2ª parte em 1615, vindo a falecer
um ano depois, com 68 anos.
O palestrante passou, então, aos
antecedentes históricos e literários, falando sobre o Renascimento nos séculos
XIV, XV e XVI, nas artes, com a superação da religiosidade medieval. Do ponto
de vista cultural, buscava-se um retorno aos clássicos gregos.
O conferencista cita como data importante
1453, com a queda de Constantinopla e a queda do Império Romano no oriente,
após dez séculos de era medieval. Com a invasão dos mouros, multiplicam-se os
estados europeus em glebas medievais. Ocorre então a mudança da cosmovisão: a
terra agora é redonda, o mar já não vai ao abismo (finisterrae).
A descoberta da imprensa gutemberguiana,
no século XV, concomitante à reforma protestante, conduz a uma visão homocêntrica
e não mais teocêntrica. Galileu e os astrônomos, em 1607, usam o telescópio
para afirmar-se a extensão da terra e do céu.
No plano meramente histórico, a península
ibérica foi invadida pelos mouros durante sete séculos, que se instalaram na
Andaluzia (Málaga, Córdoba, Sevilha, Algeciras, La Alhambra e Granada).
Em termos de literatura espanhola, há
então “as cantigas de Santa Maria – canções e poemas campestres”, “as novelas
de cavalarias”, durante a Idade Média, e “Don Quixote” e o romance moderno.
Citou a influência literária de “O elogio
da loucura”, de Erasmo de Rotterdam (1511), exercida sobre Cervantes, que, no
prólogo, se diz padrasto da obra e do leitor desocupado, inaugurando um romance
da modernidade e até da pós-modernidade, com a fragmentação da racionalidade (a
hermenêutica de Schlamaier, Heidegger e Gadamer).
Em comentário sobre Don Quixote, disse que
o livro tinha tudo para não dar certo, porque Cervantes constrói e desconstrói
(todo o tempo) personagens e aventuras impossíveis – o don Quixote, um velho
leitor, fidalgo magro, sonhador, que se constrói cavaleiro andante, procurando
um cavalo pangaré, o rocinante, igualmente esquálido e alquebrado, uma armadura
velha com elmo reconstruído por ele e que se despedaça, se esmorona na primeira
oportunidade, dando azo ao eterno sonho de conquista do “Elmo de Mambrino”, ainda que
sob o brilho solar ilusório de uma bacia de barbeiro, um escudeiro
ignorante, comilão e pantagruelesco, preguiçoso e inábil de aventuras. Don
Quixote apanha e sofre com grande dignidade, como um protagonista sincero e
digno.
E o livro deu certo. É um dos mais lindos
do mundo atual, após a Bíblia católica. Ganhou muitas novas edições em 2005,
quando da comemoração do quarto centenário da publicação da primeira parte, com
especial referência à Edição IV Centenário da Alfaguara, patrocinada pela real
academia espanhola e a Associación de Academias de Lengua Española.
Na sequência, Régis Frota falou sobre a
dificuldade de transformar o sonho em realidade e a realidade em sonho, a
quixotização de Sancho Pança e a sanchificação de Quixote.
Na primeira parte de Don Quixote, em 1605,
o personagem sai duas vezes de casa: na primeira, volta logo, todo quebrado; na
segunda, sai com Sancho de escudeiro, em busca de novas aventuras de cavalaria,
até ser reconduzido à casa pelo barbeiro e o padre, cura da aldeia de Aldonza Alonso, a Dulcineia, em algum lugar
da Mancha, de que Quixote não quer lembrar, após implicá-lo nos crimes de Sierra Morena, pois soltara os prisioneiros
das galés. Sai pela terceira e última vez, no princípio da segunda parte, para
novas aventuras e só retorna a casa para morrer, após fazer seu testamento.
Confronta exércitos de carneiros, pensando se tratar de um exército de
soldados; ataca moinhos de vento, pensando se tratar de gigantes. Finaliza com
um resumo dos grandes temas do criticismo.
A primeira parte é renascentista, solar,
clara aventura. A segunda parte é barroca, escura, chiaroscuro, de cavernas e
interiores de palácios e igrejas. Regis concluiu classificando o romance de icônico,
magnífico e clássico.
A presidente Fernanda Quinderé parabenizou
Régis Frota pela bela e instrutiva palestra e agradeceu a presença de todos.
Regina Fiúza anunciou a entrega de um
buquê de flores, oferecido por Suzana Ribeiro, do Quadro de Honra, à Presidente
Fernanda Quinderé, que em seguida encerrou a reunião festiva de aniversário de
14 anos da Academia Fortalezense de Letras, seguindo-se coquetel oferecido pelo
palestrante.
E
nada mais havendo a tratar, lavrei a presente ata, que será assinada por mim,
1º secretário, e pela presidente.
Fortaleza, 14 de junho de 2016
Seridião Correia
Montenegro
1º Secretário
Fernanda Maria Romero Quinderé
Presidente
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