Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

domingo, 19 de junho de 2016

ATA DA REUNIÃO SOLENE DE ANIVERSÁRIO DA ACADEMIA FORTALEZENSE DE LETRAS

ATA DA REUNIÃO SOLENE DE ANIVERSÁRIO DA
ACADEMIA FORTALEZENSE DE LETRAS
No dia 14 de junho de 2016, às 16:00 horas, reuniu-se a Academia Fortalezense de Letras no Palácio da Luz, à Rua do Rosário, nº 01, Centro, com a presença dos acadêmicos Fernanda Quinderé (presidente), Beatriz Alcântara (Diretora de Cultura e Publicação), Seridião Montenegro (1º secretário), Roberto Gaspar (2º secretário), Rita de Cássia (1º tesoureiro), Régis Frota (2º tesoureiro), Vicente Alencar, Roberto Ribeiro, Cybele Pontes, Regina Fiúza, Ednilo Soárez, Geraldo Jesuíno, Graça Fonteles, Maria Luiza, Giselda Medeiros, Constança Távora e Suzana Dias Ribeiro (do Quadro de Honra). Também estiveram presentes a Supervisora Letícia Gontijo, a Coordenadora de Responsabilidade Social, Renata Viana, e o professor Genuíno Sales, todos da Organização Educacional Farias Brito, além de três alunos do professor Régis Frota na UFC e familiares dos acadêmicos. Justificaram a ausência, por motivos de força maior, José Augusto Bezerra e Francisco Lima Freitas.
Atuou como mestre de cerimônias a confreira Regina Fiúza, que convidou para compor a mesa: a presidente Fernanda Quinderé, a Diretora de Cultura e Publicação Beatriz Alcântara, a confreira Cybele Pontes, representando os ex-presidentes da AFL, e o professor Genuíno Sales do Farias Brito.
Em seguida, passou a palavra à presidente Fernanda Quinderé que deu as boas vindas a todos, renovando a vontade de fazer alguma coisa por nossa cidade. Rememorou que em 14/06/2002, nessa mesma sala, os fundadores da AFL tomaram posse, sendo acolhidos por Artur Eduardo Benevides, então presidente da Academia Cearense de Letras, com a presença de Eduardo Campos, que, a seu pedido, foi quem lhe colocou o colar acadêmico. Lembrou que a fundação da Academia Fortalezense de Letras decorreu de iniciativa de José Luís Lira e Matusahila Santiago e que, nesses 14 anos alguns partiram, outros desistiram. Em consequência, algumas cadeiras foram preenchidas, duas se encontram vagas. A do confrade José Teles está aguardando o decurso do prazo de 30 dias, para a publicação do edital.
A presidente citou os nomes dos presidentes da AFL, na ordem cronológica dos mandatos: Cid Carvalho, Cybele Pontes, João Soares Neto, Ednilo Soárez, Gizela Costa, Lúcia Lustosa e Fernanda Quinderé.
Informou que convidou para a sessão solene de aniversário da AFL os fundadores Matusahila Santiago e José Luís Lira. Lira, por e-mail, fez um relato circunstanciado, enviado a todos os acadêmicos, de como ocorreu a criação e fundação da academia, e no final justificou a ausência dos dois. Para concluir essa etapa da reunião, a presidente Fernanda Quinderé leu parte de um texto da autoria do escritor  Fernando Pessoa em homenagem por seu aniversário.
A mestre de cerimônias Regina Fiúza, passou a palavra ao acadêmico Regis Frota, para falar sobre Cervantes e Don Quixote de la Mancha.
O conferencista, acadêmico Francisco Régis Frota Araújo, iniciou com os dados biográficos de Cervantes, que nasceu em Alcalá de Henares em 1547 e morreu há 400 anos em 1616, mesmo ano em que faleceu William Shakespeare.
Destacou que a insanidade de don Quixote foi a primeira grande insanidade de um protagonista da literatura ocidental, qualificando-se como insanidade transcendental, movida pela fé, enquanto o protagonista shakespeariano se move pela dúvida (to be or not to be...do Hamlet), considerada a transcendental forma de loucura. Em 1568, Cervantes já escreve poemas e no ano seguinte vai a Roma (Itália), onde trabalha como serviçal da entourage do Mons. Acquaviva, que mais tarde seria Cardeal. Depois, tornou-se soldado na companhia de Diego de Urbina (1569), atravessando o país onde conhece a literatura renascentista italiana teocêntrica, de Dante Alighiere a Boccacio. Em 1571, Miguel de Cervantes participa da batalha de Lepanto, onde, baleado, perde os movimentos da mão esquerda. Em 1575 Cervantes embarca para a Espanha e, na viagem se torna prisioneiro em Argel, base dos piratas da Berbéria e grande mercado de escravos, onde permanece preso por cinco anos. De volta à Espanha, tenta sem sucesso viajar para a América, passando a trabalhar como coletor de impostos em Sevilha. Acusado de vender trigo sem autorização, é preso em 1592, mas continua escrevendo. Vive em Andaluzia, Córdoba, Sevilha, Granada e La Alhambra. Publica a 1ª parte de Don Quixote em 1605 e após surgir versões clandestinas, em falsa continuação assinada por Alonso Fernandez Avelianeda, Cervantes se sente estimulado a publicar uma 2ª parte em 1615, vindo a falecer um ano depois, com 68 anos.
O palestrante passou, então, aos antecedentes históricos e literários, falando sobre o Renascimento nos séculos XIV, XV e XVI, nas artes, com a superação da religiosidade medieval. Do ponto de vista cultural, buscava-se um retorno aos clássicos gregos.
O conferencista cita como data importante 1453, com a queda de Constantinopla e a queda do Império Romano no oriente, após dez séculos de era medieval. Com a invasão dos mouros, multiplicam-se os estados europeus em glebas medievais. Ocorre então a mudança da cosmovisão: a terra agora é redonda, o mar já não vai ao abismo (finisterrae).
A descoberta da imprensa gutemberguiana, no século XV, concomitante à reforma protestante, conduz a uma visão homocêntrica e não mais teocêntrica. Galileu e os astrônomos, em 1607, usam o telescópio para afirmar-se a extensão da terra e do céu.
No plano meramente histórico, a península ibérica foi invadida pelos mouros durante sete séculos, que se instalaram na Andaluzia (Málaga, Córdoba, Sevilha, Algeciras, La Alhambra e Granada).
Em termos de literatura espanhola, há então “as cantigas de Santa Maria – canções e poemas campestres”, “as novelas de cavalarias”, durante a Idade Média, e “Don Quixote” e o romance moderno.
Citou a influência literária de “O elogio da loucura”, de Erasmo de Rotterdam (1511), exercida sobre Cervantes, que, no prólogo, se diz padrasto da obra e do leitor desocupado, inaugurando um romance da modernidade e até da pós-modernidade, com a fragmentação da racionalidade (a hermenêutica de Schlamaier, Heidegger e Gadamer).
Em comentário sobre Don Quixote, disse que o livro tinha tudo para não dar certo, porque Cervantes constrói e desconstrói (todo o tempo) personagens e aventuras impossíveis – o don Quixote, um velho leitor, fidalgo magro, sonhador, que se constrói cavaleiro andante, procurando um cavalo pangaré, o rocinante, igualmente esquálido e alquebrado, uma armadura velha com elmo reconstruído por ele e que se despedaça, se esmorona na primeira oportunidade, dando azo ao eterno sonho de conquista do “Elmo de Mambrino”, ainda que  sob o brilho solar ilusório de uma bacia de barbeiro, um escudeiro ignorante, comilão e pantagruelesco, preguiçoso e inábil de aventuras. Don Quixote apanha e sofre com grande dignidade, como um protagonista sincero e digno.
E o livro deu certo. É um dos mais lindos do mundo atual, após a Bíblia católica. Ganhou muitas novas edições em 2005, quando da comemoração do quarto centenário da publicação da primeira parte, com especial referência à Edição IV Centenário da Alfaguara, patrocinada pela real academia espanhola e a Associación de Academias de Lengua Española.
Na sequência, Régis Frota falou sobre a dificuldade de transformar o sonho em realidade e a realidade em sonho, a quixotização de Sancho Pança e a sanchificação de Quixote.
Na primeira parte de Don Quixote, em 1605, o personagem sai duas vezes de casa: na primeira, volta logo, todo quebrado; na segunda, sai com Sancho de escudeiro, em busca de novas aventuras de cavalaria, até ser reconduzido à casa pelo barbeiro e o padre, cura da aldeia de   Aldonza Alonso, a Dulcineia, em algum lugar da Mancha, de que Quixote não quer lembrar, após implicá-lo nos crimes de  Sierra Morena, pois soltara os prisioneiros das galés. Sai pela terceira e última vez, no princípio da segunda parte, para novas aventuras e só retorna a casa para morrer, após fazer seu testamento. Confronta exércitos de carneiros, pensando se tratar de um exército de soldados; ataca moinhos de vento, pensando se tratar de gigantes. Finaliza com um resumo dos grandes temas do criticismo.
A primeira parte é renascentista, solar, clara aventura. A segunda parte é barroca, escura, chiaroscuro, de cavernas e interiores de palácios e igrejas. Regis concluiu classificando o romance de icônico, magnífico e clássico.
A presidente Fernanda Quinderé parabenizou Régis Frota pela bela e instrutiva palestra e agradeceu a presença de todos.
Regina Fiúza anunciou a entrega de um buquê de flores, oferecido por Suzana Ribeiro, do Quadro de Honra, à Presidente Fernanda Quinderé, que em seguida encerrou a reunião festiva de aniversário de 14 anos da Academia Fortalezense de Letras, seguindo-se coquetel oferecido pelo palestrante.
E nada mais havendo a tratar, lavrei a presente ata, que será assinada por mim, 1º secretário, e pela presidente.
Fortaleza, 14 de junho de 2016
Seridião Correia Montenegro
1º Secretário
Fernanda Maria Romero Quinderé

Presidente

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