COLUNA
Batista de Lima
caderno3@diariodonordeste.com.br
13.08.2013
Zcademias e Associações
Há uma grande quantidade de academias literárias e associações culturais no Ceará. São grupos que comprovam que o intelectual cearense é gregário, gosta de um mutirão, quando o assunto é qualquer vertente das artes. Parece que o nosso artista não confia muito na capacidade individual. É através dessa união de pessoas que os projetos de divulgação de obras se tornam viáveis. Mesmo assim encontram-se alguns intelectuais renitentes em não se aproximarem de outros nessas entidades. São poucos, mas é bom lembrar que o escritor Alcides Pinto era um deles, sempre se negando a ser acadêmico.
Certa feita convidaram Alcides Pinto para pleitear uma cadeira na Academia Cearense de Letras. O poeta respondeu que instituíssem um concurso que ele talvez pudesse concorrer. Francisco Carvalho foi praticamente colocado na Academia. Não pediu voto a ninguém. Inscreveram-no. Foi à posse e não mais frequentou aquele sodalício. O poeta Roberto Pontes e o contista Pedro Salgueiro nunca se interessaram por academias. Há, no entanto, escritores de pequeno porte, que se dilaceram em campanhas para ocupar cadeiras de academias. Há deles que participam de oito a dez dessas entidades.
A Academia Cearense de Letras, a mais disputada, mais glamourosa e a mais antiga, pois foi fundada em 1894, ocupa, atualmente, o Palácio da Luz. Ali, além de ser sediada, ela ainda abre suas portas para as reuniões de outras 11 academias. Além dessas, há outras entidades que também se reúnem nas suas dependências. Entre elas estão a Associação das Jornalistas e Escritoras do Brasil, seção do Ceará; a Associação Brasileira de Bibliófilos e a Sociedade Cearense de Geografia e História. Quanto às academias que se reúnem no Palácio da Luz, além da ACL, podemos citar a de Retórica, a da Língua Portuguesa, a Metropolitana de Letras, a de Letras dos Municípios do Ceará, a Fortalezense de Letras e a Municipalista de Letras, entre as mais atuantes.
A Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará (Almece) possui em seus quadros representantes dos municípios cearenses. Nem todos os municípios estão ali representados. Se isso acontecer um dia, nós teremos 184 sócios já que é esse o número de municípios de nosso Estado. Interessante é que os municípios, por sua vez, estão criando suas academias como é o caso da Academia Limoeirense de Letras, da lavrense, da cedrense, da varzealegrense, da ipuense, da comucinense e de outras. Assim, teremos em breve 184 academias, uma para cada município cearense. É evidente que muitos municípios ainda não criaram seus sodalícios mas o exemplo vale a pena ser seguido.
Curioso é que os colégios também estão criando suas academias. Tudo começou com o Colégio Maria Ester, criando sua Academia de Letras com componentes sendo alunos da entidade. Logo em seguida, outras escolas lhe seguiram o exemplo. Já há um bom número dessas entidades nas escolas cearenses. Acontece que, segundo dados do Conselho Estadual de Educação, há no Ceará 10 mil escolas de ensino fundamental e médio. Se todas essas escolas criarem suas academias, daqui a pouco teremos 10 mil academias a mais.
Diante desse grande número de academias há os que aprovam mas há os que reprovam. Há até escritores que falam mal de tanto academicismo, diante da rara qualidade de muitos dos componentes dessas instituições. Há escritores jovens que falam mal até da Academia Cearense de Letras e, quando chegam à maturidade, lutam para ingressar nos seus quadros. Essa luta para ingressar na ACL muitas vezes apresenta lances inusitados. É que às vezes, no próprio velório de um acadêmico, há quem já se insinue como pretendente à vaga aberta. Depois, sem o respeito pelos prazos regulamentares, há os que já telefonam em pedido de votos. Essa prática condenável também acontece às vezes até na ABL.
Outra prática prejudicial às academias fica por conta daquelas pessoas que lutam para ingressar na entidade, são eleitas, tomam posse e não mais a frequentam. Essas entidades reúnem-se mensalmente e apenas em torno de 30% dos membros frequentam as reuniões. Os dirigentes lutam para que haja frequência maior, mas não conseguem. Aliás, por falar em presidência, são poucos os acadêmicos que desejam dirigir suas academias. É um trabalho espinhoso por falta de apoio público e pela obrigação de manter viva e atuante a entidade. Por isso que há presidentes que são como que permanentes.
Dois presidentes que há bastante tempo vêm sendo reeleitos para suas respectivas academias são Lima Freitas, da Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará, e Maurício Benevides, da Academia Cearense de Retórica. Há outros cidadãos que ocupam a presidência de mais de uma entidade. José Augusto Bezerra é o atual presidente da Academia Cearense de Letras, mas também é presidente da Associação Brasileira de Bibliófilos, isso sem contar que até há pouco tempo presidia o Instituto do Ceará, agora sob a presidência de Ednilo Soarez. O jornalista Vicente Alencar é o atual presidente da Academia Cearense da Língua Portuguesa e presidente da União Brasileira de Trovadores, além de dirigir a Terça-feira em Prosa e Verso.
Se aqui fôssemos citar todas as academias do nosso Ceará e seus presidentes, seria um não acabar mais. Entretanto é bom lembrar que todas elas têm sua função social. Eles congregam pessoas de saberes, estreitam relações de amizades, promovem palestras, confraternizações, e dinamizam hábitos de leitura e aprendizagem. O que poderia ser feito por pesquisador, de uma dessas áreas contempladas, era um levantamento de todas essas entidades, com seus estatutos, seu histórico, seus dirigentes e a relação dos sócios ao longo dos anos. O pesquisador teria material suficiente para monografia, dissertação ou tese. Afinal, o importante seria também apontar as razões que contribuem para tantas entidades culturais entre nós. Não adianta conhecermos o mundo cultural lá de fora se não nos conhecemos, mesmo com nossas limitações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário