DISCURSO
Julho
é sempre mês de festa na Academia Cearense de Retórica. Hoje comemoramos o
décimo sétimo aniversário do lançamento da REVISTA e do jornal A PALAVRA,
órgãos divulgadores da produção literária deste silogeu.
A
Academia Cearense de Retórica não poderia prescindir desses veículos de
comunicação, uma vez que sem eles, a produção acadêmica fatalmente sucumbiria,
porque a palavra pronunciada, voa inexorável, mas, a palavra escrita permanece,
produzindo toda a sua energia, encanto, beleza e magia.
Em
1996, o presidente Maurício Benevides e o secretário Moacir Gadelha criaram
esses dois órgãos informativos. Eles assinalam época nesta arcádia.
A
partir daí não se perde o que de melhor aqui se produz, na seara da retórica e
da cultura humanística.
Não
é só aqui que isso acontece.
Pode
se dividir a história da humanidade em dois períodos: antes e depois do
surgimento da imprensa.
Óbvio
que depois os fatos são bem mais precisos e confiáveis.
Imagine-se,
senhor presidente, se pudéssemos ler notícias e crônicas, da lavra de um
jornalista arguto, quanto o Vicente Alencar, narrando as decisões e iniciativas
de Rômulo e Remo, para construir e edificar a cidade de Roma, no ano de 753,
antes de Cristo!
Que
bom seria, se na mesma cidade eterna, cerca de seiscentos anos após sua
fundação, se pudéssemos ouvir as notícias, na voz, na inteligência e na
sagacidade de alguém que se assemelhasse a um Cid Carvalho, falando da vida, da
profissão, das atividades políticas e da execução perversa e tirana do nosso
patrono Marco Túlio Cícero.
Em
Jerusalém, em Belém, Nazaré, Cesareia, Galileia, Cafarnaum, Jericó, Mar Morto,
Monte das Bem-Aventuranças e até no Sinédrio Israelense, se existisse ali, há
dois mil anos, acompanhando Jesus Cristo, desde o nascimento, passando pelas
suas pregações e até à sua crucificação, um narrador minucioso quanto um
Roberto Ribeiro, saberíamos bem mais sobre o Salvador da humanidade.
Ah!
como seria bom se houvesse um jornal noticiando tudo sobre a Batalha de
Ourique, em 25 de julho de 1139, vencida por Afonso Henriques, que ali mesmo,
no Baixo Alentejo, se auto proclamou primeiro Rei de Portugal.
Mas,
para que buscar tantos exemplos noutras terras e noutros povos se aqui está
referta a nossa história, de fatos relevantes, não menos dignos e nem menos
nobres, que nos chegam truncados, por falta de um jornalzinho qualquer, que
anunciasse a iniciativa de Martin Afonso de Souza, tão bem coadjuvado por sua
mulher, Ana Pimentel, de fundar a primeira cidade das Américas, São Vicente, em
1532?
Faltou
uma publicação sobre os acontecimentos de Palmares e a bravura do seu líder
inconteste ZUMBI.
Um
pequeno jornal que falasse da administração do holandês Maurício de Nassau, de
1630 a 1654, que encontrou Recife com cinquenta casas e a deixou com duzentas e
cinquenta, quintuplicando-a, além de inúmeras outras obras, dentre elas a
primeira ponte do Brasil.
Ah!
um jornalzinho, da lavra de alguém, com o preparo de uma Francinete Azevedo,
narrando o entusiasmo de Daniel de La Touche, em 1612, pretendendo perpetuar a
França Antártida na cidade que fundou, São Luís do Maranhão.
Seria
por demais prazeroso ler uma publicação a respeito da fundação da cidade de São
Paulo, pelos Padres Jesuítas, tendo à frente o missionário José de Anchieta, em
1554, e também sobre a fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro,
em 1567, por Estácio de Sá, sobrinho do Govenador Geral Mem de Sá.
Ah!
se houvesse imprensa noticiando as batalhas de Tabocas e Guararapes, as
incursões de Matias de Albuquerque, ao sacrifício de Vital de Negreiros e o
heroísmo de Felipe Camarão e Henrique Dias.
Faltou
imprensa para registrar, em 1720, o esquartejamento de Felipe dos Santos, em
Vila Rica, que antes de morrer, proclamou: “Morro sem me arrepender, porque a
canalha do Rei há de ser esmagada pelo patriotismo dos brasileiros”.
Ah!
se tivesse um jornal, em 1789, na Inconfidência Mineira, para investigar se
Cláudio Manoel da Costa enforcou-se ou foi enforcado, bem como para acompanhar
os últimos passos de Tiradentes, da Cadeia Velha até o Largo da Lampadosa.
Que
pena Fortaleza não ter um jornal livre em 30 de abril e 28 de maio de 1825,
narrando as execuções por fuzilamento de Feliciano José da Silva Carapinima,
João de Andrade Pessoa Anta e do Padre Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque e
Melo Mororó, ali na Praça dos Mártires, líderes no Ceará, da Confederação do
Equador, movimento republicano, que do Recife era muito bem coordenado pelo
Frei Caneca.
Lamento
não dispor de tempo suficiente para citar inúmeros outros acontecimentos
marcantes, em que faltou um jornal para aumentar os conhecimentos da
humanidade.
Com
essas rápidas pinceladas históricas, mais razões existem para nos jubilarmos
dos nossos veículos de imprensa, que hoje alcançam os seus dezessete anos.
Saúdo
um dos mentores desses veículos de comunicação, o retor padrão José Moacir
Gadelha de Lima, que hoje autografa o seu décimo quinto livro, denominado
CAMINHADAS, e que será apresentado pelo acadêmico Aristides Braga.
Viva
A PALAVRA!
Salve! A Academia Cearense de Retórica.
Obrigado.
Neuzemar Gomes de Moraes.
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