Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

domingo, 3 de março de 2013

Literapia Pedro Henrique Saraiva Leão


ARTIGO 27/02/2013  artigo do jornal O POVO

Literapia          Pedro Henrique Saraiva Leão


É um neologismo (palavra nova) cunhado por mim em 1996. Significa terapêutica, terapia, tratamento pela literatura. Cura ou alivia, como a fisioterapia, embora exercitando não a musculatura, mas o intelecto, a cortiça cerebral. Método indolor, agradável, sua aplicação exige apenas um livro e um leitor.

Àquela data foi título de uma das antologias da Sobrames-CE (Sociedade Brasileira de Médicos Escritores), a seguir de sua revista, tornando-se, há 3 números, “uma revista de escritores cearenses”.

Atenta à importância da leitura, a Unimed Fortaleza já promoveu dois concorridos cursos de Literatura para Médicos: UnimedLits, 8/2011 e 8/2012. Brevemente estará funcionando na sua sede a Blume – Biblioteca Unimed de Médicos Escritores. Denominada “Biblioteca Airton Monte”, colega médico/escritor há pouco falecido, e um dos três mais recentes festejados cronistas de Fortaleza.

Michel Eyquem de Montaigne (1533–1592) – criador do gênero ensaio em literatura, afirmou ser o livro a melhor provisão (...) para esta humana viagem. Mesmo para as viagens menores, aí estão as gares (estações ferroviárias), os embarcadouros e os aeroportos abrigam livrarias, onde os passageiros encontram os melhores acompanhantes, os livros.

O carioca Mariano Pereira da Fonseca (1773-1848), Marquês de Maricá, quase médico, famoso por suas máximas, e talvez o primeiro moralista do Brasil, assegurava ser a companhia dos livros mais vantajosa do que a dos homens. Para o poeta gaúcho Mario Quintana, lendo estamos a sós, embora acompanhados.

Segundo Thomas Carlyle (1795-1881), historiador e ensaísta escocês, “a verdadeira universidade (...) é uma coleção de livros”.

Ler é a melhor distração, superior ao baralho, à TV, aos vídeos, até ao sexo, pois o livro está sempre disponível, nunca tem enxaqueca. Nasci ente livros, e estantes compunham várias das paredes da minha casa. Além da costumaz (contumaz, habitual) leitura, mais até aprecio reler, e a cada três anos revisito Machado de Assis e Eça de Queiroz. Carece reler os fundadores da Literatura ocidental: Homero, Dante, Shakespeare, Cervantes. Várias vezes voltei ao “Brave New World”, de Aldous Huxley (1932), à “of Humam Bondage” (“Servidão Humana”) do médico/ecritor inglês Somerset Maugham, “Le Petit Prince”, e tantoutros quetais.

Nosso Rui d’Hã, Enoch Villalobos, Nero de Tal (entre inúmeros pseudônimos) José Bento Monteiro Lobato (1882-1948) sustentava que um país se faz com homens e com livros.

É triste constatar que Fortaleza ostenta o 3º menor índice de leitura no Brasil. (“O POVO”, 25/1; 6, 7, 8/2/2013). Há muito, no nosso colégio marista um colega, amigo – hoje empresário, riquíssimo – confessou-me nunca ter lido um livro!

Curiosamente, aquele mesmo inglês Huxley afirmava: “ignorance is insensible bliss” (felicidade).

Preferimos ser menos ditosos (felizes), mas ruminar o fértil alimento que nos fornecem os livros. Antes da sua destruição pelo fogo, a umidade, os cupins, e as viúvas.

Pedro Henrique Saraiva Leão
pedrohenrique.leao@unimedfortaleza.com.br 
Médico e secretário geral da Academia Cearense de Letras

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