e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar
quinta-feira, 21 de março de 2013
MORTE EM SÉRIE - SÉRGIO MACEDO
SÉRGIO MACEDO
(Da Academia Fortalezense de Letras e da Sociedade
Brasileira de Médicos Escritores - SOBRAMES)
A morte deveria vir em série,
Não se pode morrer de uma vez,
São tantos passados, tantas incoerências,
Tantas perdas mal e não resolvidas,
Tantas dissimulações, tantos ocasos mal perdidos,
Tanto despertar de tédio e tanta "boa noite" insípida.
Morrer uma vez é pouco, muito pouco,
Há que se morrer os sentimentos e as dores,
Há que se morrer tragédias não ocorridas,
há que se as matar, antes de morrer.
Por isso a morte deve ser
Um paraquedas mal aberto,
Dar tempo à consciência de matar fantasmas pertinentes e persistentes,
Matar amores natimortos,
Matar vidas mortas, nossas vidas mortas,
É necessário.
Matar o óbvio que não acontece
O inusitado que se aproxima como o trem bala, a bala.
Matar o olhar que se encontra e se dissipa,
Matar o sorriso que ia acontecendo... e se vai
Matar principalmente as lembranças,
perdidas os espaços e nos tempos,
Ambos atemporais ou reais.
É preciso matar os remorsos inconsequentes
As palavras clara ou remotamente vãs.
Cansa-me, e à ti, essa série de perdas e banalidades tão graves
A repetição das horas,
A fatídica sequência de odores, de crepúsculos,
Metáforas frágeis e claras
De cotidianos pobres e cinza.
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