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e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

NOVAMENTE OS TRIBUTOS Fortaleza, 22/2/23. Rui Martinho Rodrigues.

 NOVAMENTE OS TRIBUTOS


Reforma tributária entrou novamente em pauta. O problema dos tributos deu

origem a expressão manicômio tributário. Contribuintes se queixam da complexidade e

do custo causado pelo labirinto de regras. Economistas e empresários lamentam o

desestímulo que o nó górdio tributário representa para investidores e administradores de

empresas. Pessoa natural sofre com a carga tributária. Estados e municípios criticam a

repartição das rendas entres os entes federativos. Capital e trabalho se sentem

prejudicados.


A formulação do sistema tributário é enganosamente simples. Bastaria

cobrar menos de muitos arrecadando o suficiente; ponderar a capacidade contributiva; e

simplificar o processo de arrecadação. Fácil como amarrar o guizo no pescoço do gato

para a avisar os ratos da aproximação do felino. Mas contribuintes querem pagar menos.

Entes federativos querem arrecadar mais e querem uma fatia maior da divisão do bolo.

União, Estados e municípios estão sempre em dificuldade para fechar suas contas.

Empresas de grande porte estão perigosamente endividadas. Uma enorme parcela de

consumidores (famílias) não está podendo honrar seus compromissos. Até a situação

dos grandes bancos estaria inspirando cuidados.


O manicômio tributário precisa ser melhorado. Um dos desafios é

compatibilizar o tamanho das despesas e investimentos públicos com o tamanho da

arrecadação possível e conveniente. Depois viriam os difíceis acertos ligados a

repartição da renda entre os entes federativos; a consideração dos impostos diretos e

indiretos, a distribuição do ônus pelas diferentes atividades econômicas e tantas outras

coisas.


As políticas sociais são recompensadas com votos, o que nos leva a adotar o

modelo do Estado provedor da Europa Ocidental e setentrional, embora a nossa

economia não tenha a produtividade observada nos países destas regiões e a nossa

infraestrutura de transportes não seja tão favorável como nos paraísos citados.

Copiamos o modelo sem pensar na reserva do possível. As economias onde Estado é o

provedor estão emitindo sinais de desgaste, seja pela crise fiscal, seja pela incapacidade

de competir com os asiáticos.


A capacidade financeira do Estado brasileiro é menor do que a dos países

europeus. A nossa capacidade de competir com os asiáticos também é menor. Milhões


de pessoas estão sendo retiradas da miséria no oriente. Mas nós não queremos seguir o

exemplo deles, que escolheram a geração de emprego como a melhor política social, ao

invés do assistencialismo. Nem respeitamos a reserva do possível, que na prática é o

equilíbrio fiscal. Optamos por gastar o que não temos e consumir sem investir na

produção, na produtividade. Os asiáticos, ao retirar milhões da miséria, estão alargando

a faixa da classe média, camada social odiada no Brasil dos “virtuosos”. Parece um

enigma indecifrável que a tendência política que odeia a classe média, como a

professora Marilena Chauí, tenha na referida classe o seu reduto eleitoral. Os bairros

elegantes votam nos candidatos que odeiam os seus moradores.


Não é fácil decifrar o que os portadores do ódio do bem consideram classe

média. Não deve ser pela origem da renda (teoria de estratificação social inspirada em

Karl H. Max, 1818 – 1883) pois sob tal critério só existem duas classes: uma tem a

renda oriunda do capital; outra obtém seus ganhos pelo trabalho. Não haveria a classe

média. Caso a teoria de estratificação social adotada seja a quantidade de renda, venha

do onde vir (posição no mercado), segundo Max Weber (Maximilian K. E. Weber, 1864

– 1920) classe média é quem ensina nas universidades onde a professora Chauí trabalha

e vende seus livros, está nas empresas públicas, como a Caixa Econômica Federal; nas

de economia mista, como o Banco do Brasil e a Petrobrás, ou em alguns setores da

administração direta dos entes públicos, como a Receita Federal, a magistratura e o

Ministério Público, que integram as correntes políticas que odeia a classe média.

O ódio a classe média, leitora dos livros da professora Chauí e que vota em

seus candidatos, tem uma explicação: não depende das bolsas e – no caso extremo – do

cartão de racionamento. Não basta apoiar os herdeiros dos reis filósofos, é preciso

depender deles. Isso explicaria a destruição planejada das economias da Venezuela, da

Argentina e da Nicarágua. Destruir o agronegócio, no Brasil, não é um erro nem tem o

objetivo de promover a justiça social. É um objetivo estratégico. Os problemas da

Venezuela não são decorrentes da variação dos preços do petróleo. Arábia Saudita e Irã

dependem do mesmo produto, arcam com pesadas despesas militares e não sofreram

tanto quanto a Venezuela. Não devemos deixar que o ódio a classe média conduza a

reforma tributária de modo a destruir este segmentos social com impostos diretos.


Fortaleza, 22/2/23.

Rui Martinho Rodrigues.

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