Jornalista Vicente Alencar
Fortaleza=-CE
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'VOZ DA DEMOCRACIA'
Versos escrito pelo Poeta e Cantador de viola - Domingos Fonseca - 1942
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Utilizo-me da pena/ Como pequeno poeta/ Pra descrever uma parte/ Da minha mágoa secreta:
Mágoa, dor, tormento, prantos/ Os sofrimentos são tantos/ Que não posso os revelar.../
Fico sofrendo, cativo,/ Esperando um lenitivo,/ Quando o Brasil despertar.../
Quando vejo a opulência/ sentada em divans doirados,/ Ouço no mesmo momento/ O clamor dos desgraçados/ Implorando a caridade.../ Que prazer, que suavidade, brilham nos céus da nobreza!
Esta, num prazer infindo,/ E o desconforto sorrindo/ Chicoteando a pobreza!
Brasil, tu não és tão grande,/ Tão poderoso e tão forte?/ Porque não vibras um eco/ Que se ouça do Sul ao Norte?/ Depois de acurado estudo/ Te capacitas de tudo/ Põe teu valor em ação.../ Prova que és democrata,/ Obriga a nobreza ingrata/ Saber que o pobre é cristão!
Vê-se o palácio do nobre/ Que possui belezas mais/ Que o templo de Apolo Lício,/ Nas eras medievais!/ Camas aromatizadas,/ Lindas cortinas doiradas/ Nas portas da habitação.../ Tudo sobra
para o nobre/ Enquanto o filho do pobre/ Morre por falta de pão!
Viajando no Sertão/ Vê-se um pobre retirante/ Todo coberto de andrajos,/
Um filho atrás, outro adiante,/
Doentes, acabrunhados, / Mortos de fome, coitados,/
Vagando no mundo além.../
Este sofrimento enorme/ É porque a Pátria dorme,/
Esquece os filhos que tem...
Vê-se as calçadas juncadas de infelizes sem abrigo,/
Tendo a dor - amiga íntima -/ No leito úmido consigo...
Além de com frio, com fome, /Que o pobre só sabe o nome/ Do que se diz: passar bem...
O rico proprietário,/ o burguês milionário/ Não visa a dor de ninguém...
Vê-se uma freira envolvida/ Em cinco capas azuis,/ Porque não vende uma ou duas/
Pra dar vestimenta ao nus?/ Um crucifixo de ouro/ Que tem valor de um tesouro/
Dos poderosos romanos.../
Essa exploração sutil/ Continuando, o Brasil/
Vai findar-se em poucos anos!
Ah! se surgissem agora,/ Com a mesma vocação,
As almas de Caio Graco/ E de Tibério Cipião...
Com aquela mesma ideia/ Talvez a classe plebeia/
Ainda enxugasse o choro:/
Formavam a Lei Agrária/ E esta, como arbitrária,/
Descia do trono de ouro!
Quando o Brasil era inculto/ Seus erros eram perdoáveis,/ Mas hoje, civilizado,
Não pode haver miseráveis.../ Lutemos por liberdade/
Mas, lutar a humanidade/ Não é lutar um ou dois:/
É lutar o povo em massa/ Pra evitar da desgraça/ O mundo que vem depois...
(Hugo Pinheiro - HP)
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