No fio da navalha
Geraldo Duarte*
Necessitei de rápido conserto no carro e busquei a SidCar, oficina do velho amigo Sidney Gomes. E quando nos encontramos, mil e tantas conversas não cessam.
No prosear, disse-lhe que iria à barbearia. Daí, surgiu o mote deste artiguete.
Contou-me que, há mais de vinte anos, não aceita que lhe tirem a barba, nem façam o pé do cabelo usando navalha. Mesmo as modernas adaptadas para lâminas de barbear. A meu provocar, explicou o porquê.
Dezembro de 1995. A sobrinha Bárbara concluíra o Curso Normal e exigia-lhe que fosse o padrinho de formatura e com ela dançasse a valsa da festa comemorativa.
Sexta-feira, véspera do evento. Preparou a mala e, depois do expediente, dirigiu-se à estação rodoviária. Embarcou em ônibus destinando-se a Piripiri, Piauí, onde a concludente residia.
Viagem tranquila. Amanheceu na cidade, sendo recebido pelos familiares.
Após as boas-vindas e de instalar-se, solicitou ao sobrinho Paulo Henrique que o levasse a uma barbearia, pois necessitava preparar-se visando à solenidade. Cortados cabelo, barba, bigode e unhas pagou e saíram. Passando em frente ao mercado público, resolveu conhecê-lo.
Ao parar numa banca de artesanatos, ouviu lancinantes gritos de um homem em desabalada carreira, quase nele esbarrando.
“Aquele não é o barbeiro?” – perguntou ao sobrinho, que confirmou. “E você me levou para ficar sob o fio da navalha dele?”.
A explicação foi de ser o melhor profissional do lugar, ter de tempos em tempos igual ataque, mas nunca feriu ninguém. Tudo devido à mulher o haver trocado por um caminhoneiro.
Ao final, indagou-me: “Tenho ou não razão de evitar navalha?”.
*Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.
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